Na quarta-feira (4), a Diretoria da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK São Paulo) se reuniu no escritório da instituição para um debate sobre a aplicação de inteligência artificial (IA) em empresas e indústrias.
Responsável pela condução da reunião, Paulo Alvarenga, Presidente da AHK São Paulo e CEO da thyssenkrupp para a América do Sul, deu início ao encontro dando as boas-vindas a Matthias Schmidt, que assumiu recentemente o cargo de Gerente Geral Adjunto da instituição.
Tradicionalmente a reunião é aberta com a participação da Cônsul Geral da Alemanha em São Paulo, Martina Hackelberg, que neste encontro compartilhou detalhes sobre a reunião de Embaixadores e Cônsules-gerais alemães realizada em setembro, em Berlim.
“O tema central da discussão foram as parcerias globais. A Ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, resumiu que entramos agora em uma nova fase de relações globais. Entendemos que temos que trabalhar mais para garantir nossa segurança política, econômica e militar. A globalização não acabou, mas deveria ser repensada. A tarefa agora é reforçar a resiliência econômica da Alemanha e da Europa nos próximos anos, fortalecendo as cadeias de suprimentos em áreas estratégicas. É sabido que o Brasil é um país parceiro estratégico e a meta é garantir que a região receba a atenção que merece na Alemanha”, afirmou.
Dando início às discussões sobre inteligência artificial, Dr.-Ing. Pablo Oliveira Antonino, Chefe do departamento de Virtual Engineering do Instituto Fraunhofer de Engenharia de Software Experimental IESE em Kaiserslautern, na Alemanha, palestrou sobre o conceito de IA e como ela pode ser aplicada nos mais diferentes setores da indústria. “Inteligência artificial é um conjunto de tecnologias que agregam um grande volume de dados para guiar decisões a serem tomadas por uma máquina com certa autonomia”, elucidou.
De forma pragmática, ele defendeu que as discussões sobre o uso deste tipo de ferramenta ainda estão centradas no viés da substituição do intelecto humano, sem trazer luz ao ponto central que é a IA como “facilitadora e possibilitadora de novas tecnologias”.
Como exemplo, mencionou a IA como o “coração” dos sistemas autônomos. “Existe uma pressão constante para fornecer produtos cada vez mais inovadores ao usuário final. E a IA é a ferramenta que permite a agilidade dessa entrega”, explicou, completando: “Para que todas as funções de um veículo autônomo funcionem de forma segura, sem comprometer a segurança de pedestres e passageiros, seria preciso dirigir impraticáveis 149.600.000 km. Isso corresponde a 88 vezes a distância entre nosso planeta e o Sol. Neste contexto, surge o auxílio de ferramentas de inteligência artificial que permitem a validação de sistemas dessa natureza”.
Entre os principais conceitos que têm sido dirigidos por IA para possibilitar essa onda 4.0 estão os gêmeos digitais – representações virtuais de um equipamento físico que estão conectadas a esse equipamento físico permitindo simulações.
“Com técnicas de IA e redes neurais podemos ter informações em tempo real, para acelerar o processo de desenvolvimento, melhorando o time to market e tornando o produto melhor frente às competições no mercado”, adicionou Antonino.
Concluindo sua palestra, Antonino reforçou que não acredita que os fatores técnicos sejam os limitadores para a implementação de tecnologias desse tipo. “Precisamos de uma quebra de cultura, rompendo com o imediatismo que envolve as decisões para investimentos deste tipo. Inovação precisa de tempo.”
Para compartilhar um case de desenvolvimento de IA no ambiente acadêmico, os alunos Denis Tavares da Silva e Gustavo Grandisolli Zwicker, da Fatec Ourinhos, apresentaram o projeto ITT – Is that true?.
Finalista na etapa mundial do programa Falling Walls Lab, organizado pelo Centro Alemão de Ciência e Inovação (DWIH São Paulo), o projeto se baseia no uso de inteligência artificial para identificar fake news.
“Atualmente o ITT possui acurácia de 94.62% em notícias do dataset. Nossos próximos passos são a análise pragmática e desenvolvimento de modelos multilíngue. É um trabalho de formiguinha, mas que julgamos extremamente necessário”, afirmou Zwicker.
Questionado sobre o uso de dados sintéticos, Robson Parmezan Bonidia, Professor Orientador do Projeto, esclareceu sobre os riscos relacionados a esse tipo de alimentação da base. De forma simplificada, os dados sintéticos podem ser definidos como informações criadas em mundos digitais em vez de coletados ou medidos no mundo real.
“Os dados são o coração de tudo. Podemos alimentar esse sistema com dados sintéticos, claro. Mas se esse modelo tem uma alimentação enviesada por caracteres sociais ou políticos, por exemplo, esses vieses serão reproduzidos para o modelo, comprometendo-o. É preciso trabalhar com muito cuidado e centrar nos dados para que eles realmente representem a realidade da sociedade”, explicou.