Estudo liderado por Dr. Paulo Barros, cirurgião do aparelho digestivo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, denominado “HERNIACLINIC-QOL”, recebeu no dia 14 de setembro o Gimbernat Award, prêmio concedido à melhor apresentação internacional no congresso da American Hernia Society (AHS), em Chicago, nos Estados Unios.
O estudo denominado “HERNIACLINIC-QOL” é o primeiro registro clínico no Brasil voltado especificamente para cirurgias de hérnia da parede abdominal e seu impacto na qualidade de vida dos pacientes ao longo do tempo.
A conferência da AHS é uma das mais relevantes no campo da cirurgia de hérnia, reunindo especialistas de todo o mundo para compartilhar avanços e discutir as melhores práticas no tratamento da condição. Já o Gimbernat Award valoriza contribuições de fora do eixo norte-americano que apresentem soluções inovadoras e economicamente viáveis para os pacientes.
A pesquisa acompanhou 554 pacientes operados no Hospital Alemão Oswaldo Cruz entre 2020 e 2024, e avaliou como a qualidade de vida deles evoluiu após diferentes tipos de cirurgias de hérnia.
“No Brasil, e em muitos outros países, o foco tradicional da medicina muitas vezes se concentra na realização do procedimento em si, mas há um crescente interesse em aprofundar o acompanhamento dos pacientes no período pós-operatório, garantindo que o sucesso da cirurgia se reflita em uma melhoria contínua na saúde e bem-estar”, explicou o médico.
O estudo investigou tanto os resultados imediatos das cirurgias quanto os desfechos a longo prazo, como complicações, infecções e readmissões hospitalares, considerando procedimentos minimamente invasivos e cirurgias abertas, aquelas feitas com incisões maiores na parede abdominal, como forma de analisar e comparar as técnicas e materiais utilizados, bem como otimizar os resultados clínicos e reduzir os custos envolvidos.
Os pacientes foram acompanhados em três momentos: 30 dias, um e dois anos após o procedimento cirúrgico, utilizando o sistema de questionários, enviados aos pacientes, EuraHS-QoL (European Hernia Society Quality of Life), que avalia dor, função física e bem-estar geral.
Entre os 554 pacientes, 80% eram homens, com média de idade de 52 anos e índice de massa corporal (IMC) de 27, considerado sobrepeso. A taxa de complicações foi baixa, com apenas 1,8% de infecções superficiais e 1,4% de reinternações.
O estudo também apontou que as técnicas minimamente invasivas, utilizadas em 85% dos casos de hérnia inguinal, proporcionam uma recuperação mais rápida com alta hospitalar no mesmo dia da cirurgia. Nas cirurgias ventrais abertas, a média de internação foi de um dia.
Os resultados mostraram ainda taxa de readmissão de apenas 1,5% e a necessidade de reoperações em 1% dos casos. Além disso, os pacientes relataram menos dor crônica e uma significativa melhora na qualidade de vida, tanto a curto quanto a longo prazo.
Devido ao menor tempo de internação e à diminuição da necessidade de reoperações, a pesquisa também apontou possível redução nos custos hospitalares.
A taxa de recorrência de hérnia foi de apenas 5%, e segundo o cirurgião Dr. Paulo Barros é considerada baixa, especialmente para hérnias ventrais, que são mais complexas.
“Esses resultados reforçam o papel da medicina baseada em valor, que visa não apenas o sucesso cirúrgico imediato, mas também a melhoria da qualidade de vida a longo prazo, oferecendo intervenções que são, ao mesmo tempo, eficazes e economicamente viáveis”, explicou o cirurgião.