Alemães mantêm investimentos no Brasil


As empresas alemãs pretendem manter os investimentos, ao menos aqueles considerados essenciais para assegurar a expansão futura de suas operações no Brasil, e focar seus negócios no mercado doméstico, em detrimento das exportações, por conta da valorização do Real frente ao Dólar. É o que revela Pesquisa de Conjuntura realizada pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK São Paulo) no quarto trimestre do ano, junto aos seus 1,7 mil associados, em maioria empresas dos setores automotivo, químico, de máquinas e equipamentos, financeiro e serviços, que respondem por 10% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial brasileiro.



De acordo com o levantamento, houve retração nas expectativas para investimentos e na avaliação do cenário econômico. O percentual de empresas que consideravam a conjuntura econômica “estável” a seus negócios subiu de 14% no terceiro trimestre para 41% no quarto. Na avaliação de 47% dos entrevistados, o cenário foi classificado como “favorável” para realização de investimentos no trimestre atual, contra 55% no trimestre anterior. No cenário futuro, o dado que chama atenção é o número de entrevistados que classificou como “estável” as condições para realização de investimentos daqui a seis meses, que subiu de 32% no terceiro trimestre para 47% no quarto.



Apesar da retração nos indicadores relativos ao ambiente de negócios brasileiro, um dado que chama atenção é a confiança do investidor quanto ao consumo no mercado nacional: 63% dos entrevistados acreditam que o mercado interno continua em um contexto “favorável”, um fator de otimismo relevante na avalição do presidente da AHK, Weber Porto. “A força do mercado interno é vista pelos alemães como um fator que contribui para que o Brasil esteja mais protegido em uma eventual crise econômica, e por esse motivo é um dos países considerados estratégicos para os investimentos destas companhias”.



O dirigente ainda destaca que o empresariado alemão não pretende abrir mão dos aportes já comprometidos com o Brasil. Segundo dados da própria pesquisa, 75% dos empresários confirmam intenção de realizar investimentos em 2012, sendo que, deste total, 48% pretendem comprometer, em média, R$ 12 milhões com aportes. 9%, no entanto, ainda não definiram quanto será investido. “Nota-se, portanto, a preocupação em priorizar os aportes essenciais para que as empresas assegurem seu posicionamento e viabilizem o crescimento futuro, ao mesmo tempo em que se busca atender as demandas das matrizes neste momento delicado da economia, notadamente na Europa”, analisa Porto.



Os desafios do Brasil – A pesquisa da entidade também procurou saber, na opinião dos alemães, quais são os principais gargalos ao desenvolvimento. “Falta de mão de obra qualificada” ainda lidera a lista de preocupações, citada por 57% dos entrevistados. Em seguida, vem “Legislação trabalhista e tributária”, com 54% de menções. “Competitividade Industrial”, que aparece no ranking pela primeira vez no ano com 42% do total, vem em terceiro, superando o tema “Infraestrutura”, que figurou na lista no decorrer do ano.



“Muitas das subsidiárias brasileiras de nossos associados exportam para Europa, América Latina e outros países. Neste momento em que o Real valorizado se apresenta desfavorável às exportações, as empresas procuraram alternativas, notadamente no mercado interno”, explica Porto. A desvalorização do Real, por sinal, também foi apontada como necessária por aproximadamente 75% dos entrevistados (na pesquisa anterior eram 63%). Para estes, uma desvalorização aproximada de 20% em relação às cotações atuais seria considerada adequada.



Com relação aos juros, os movimentos recentes do Banco Central para reduzir a SELIC, fizeram com que 48,5% dos entrevistados acreditem que os índices vão se estabilizar e até cair (opinião de 45,5% dos empresários) nos próximos meses. Para o Produto Interno Bruto (PIB), a expectativa é de crescimento de apenas 3,10 % (na média das opiniões manifestadas) em 2012. O governo Dilma Rousseff continua bem avaliado pelo empresariado alemão em relação às pesquisas anteriores. Na análise geral das respostas, a avaliação é entre “bom” e “mediano”.

Carlo Ferreri
Carlo Ferreri