Um grupo formado pela elite industrial alemã se articula para participar da concorrência do trem de alta velocidade brasileiro. O anúncio parece ter chegado muito em cima da hora – o prazo estipulado pelo governo para o recebimento das propostas venceria em 11 de abril, mas o governo brasileiro já admite o adiamento do leilão.
O próprio ministro dos Transportes, Peter Ramsauer, demonstrou pessoalmente ao ministro brasileiro, Alfredo Nascimento, o interesse dos alemães em participar da construção do chamado trem-bala. Numa reunião nesta quinta-feira (31/03), em Brasília, Ramsauer pediu oficialmente que o governo brasileiro estenda por pelo menos seis meses a data limite para que os consórcios apresentem as propostas.
Nascimento disse que o assunto será discutido numa reunião técnica na próxima semana, mas que há grandes chances de o governo optar pela ampliação do prazo. Ramsauer, que se reúne com a presidente Dilma Rousseff nesta sexta-feira, foi encorajado por Nascimento a reforçar o pedido junto à presidente.
“O Brasil sempre alimentou uma expectativa muito positiva em relação ao interesse da Alemanha. Recebemos com alegria e satisfação essa demonstração de interesse alemão em relação ao trem de alta velocidade brasileiro”, disse à Deutsche Welle Paulo Sérgio Oliveira Passos, secretário executivo do Ministério dos Transportes do Brasil. Do lado alemão, Ramsauer prometeu empenho. “Como ministro responsável, eu farei tudo para que o esforço seja coordenado de tal maneira pelo lado do governo a fim de que uma boa oferta seja feita pelo consórcio alemão”, disse com exclusividade à Deutsche Welle.
Com algumas condições
Caso o governo brasileiro prolongue a data de apresentação das propostas, a pasta de Ramsauer coordenará a articulação das empresas alemãs para a formação do consórcio. Devem fazer parte do grupo companhias como a Siemens, ThyssenKrupp, Max Bögl e IABG – empresas representadas na reunião entre os ministros. Apesar do interesse declarado, o provável consórcio pede algumas mudanças nas condições impostas pela ANTT, Agência Nacional de Transportes Terrestres, para participar da licitação.
O diretor do órgão, Bernardo Figueiredo, pediu que os alemães enviassem essas solicitações de forma objetiva, mas adiantou que está aberto para discutir alteração do trajeto e cronograma da obra. Segundo Figueiredo, a linha entre Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro poderia ser construída em etapas diferentes.
O banco estatal alemão KfW quer discutir formas de financiamento e parceria com o BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento. Segundo Christiane Laibach, que integra o conselho de administração do KfW, há exemplos em outros países de financiamento com participação de bancos nacional e internacional.
Projeto brasileiro
“Sabemos que, no mundo, são poucas as nações que detêm a tecnologia do trem de alta velocidade. A Alemanha reconhecidamente é um país que tem um padrão de excelência no que diz respeito à exploração, construção de vias dedicadas a alta velocidade”, ponderou Paulo Sérgio Oliveira Passos. Se confirmado, esse será o segundo adiamento do prazo para recebimento de propostas. Estima-se que a linha entre Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro terá 510 km, com obras de construção orçadas inicialmente em R$ 33 bilhões.
Além do grupo alemão, segundo o Ministério brasileiro dos Transportes, manifestaram interesse em participar da concorrência pública para o trem de alta velocidade um grupo coreano, os espanhóis da Talgo, empresários do setor de construção pesada e industrial do Brasil e a Alston. “E também nas conversas que tivemos com japoneses, recebemos o indicativo de que seria interessante uma dilatação desse prazo”, acrescentou Passos.