Berthold Beitz, última grande personalidade do mundo empresarial alemão da segunda metade do século 20, faleceu nesta terça-feira, dia 31 de julho, em Essen, na Alemanha. Beitz, que completaria 100 anos em setembro próximo, não será lembrado apenas pela sua relação com a Krupp, tradicional empresa do setor siderúrgico que deve a ele a sua preservação e existência. Na história econômica alemã ocupará um lugar de destaque resultado da liderança que exerceu nos anos do pós-guerra, assim como nos Anos da Reconstrução, do Milagre Econômico, da Guerra Fria e até mesmo no período posterior à queda do Muro. Além disso, seu nome estará sempre relacionado aos esforços de reconciliação da Alemanha com os países do Leste europeu e com Israel.
Carreira
Nascido em 1913, em Zemmin (Estado da Pomerânia), Beitz transferiu-se em 1953 para Essen. Alfried Krupp von Bohlen und Halbach, integrante da família fundadora da Krupp e último proprietário pessoal da empresa, contratou o administrador de seguros para ser seu assistente pessoal com plenos poderes para representá-lo. Krupp, de forma muito consciente, selecionou para ocupar essa posição alguém que não tivesse passagem pelos setores de mineração e siderurgia, berços da empresa. Beitz assumiu a tarefa de assessorá-lo na defesa da companhia, impedindo que fosse sucateada pelos Aliados e definindo as bases para a sua reestruturação e desenvolvimento futuro.
Nos anos 1950, sob a liderança dos dois dirigentes, a Krupp transformou-se em uma das maiores empresas alemãs. Suas incontáveis viagens ao Exterior resultaram na reconquista da confiança na empresa, perdida durante os anos da 2ª Guerra Mundial. Nessa época, o respeito que Beitz desfrutava nos países do Leste europeu foi fundamental. Lá, já era conhecida a sua atuação durante o conflito bélico quando, junto com a esposa, salvou da morte judeus deportados nos campos de concentração situados em território da atual Ucrânia. Esse reconhecimento lhe permitiu abrir portas, então fechadas para qualquer político alemão. As relações comerciais iniciadas com a União Soviética, Polônia, Romênia, Bulgária e Hungria tiveram grandes reflexos econômicos e beneficiaram posteriormente a Ostpolitik (Política para o Oeste) implantada por Willy Brandt.
Fundação Alfried Krupp von Bohlen und Halbach
A transformação da Krupp em uma sociedade anônima também teve participação decisiva de Berthold Beitz. Alfried Krupp planejava, para depois de sua morte, transferir todos os seus bens para uma fundação, a qual assumiria a responsabilidade de administrá-la. Coube a Beitz convencer Arndt, único filho de Alfried Krupp, a abrir mão de seus direitos sobre os bens do pai.
Alfried Krupp faleceu no dia 30 de julho de 1967. Na sequência foi fundada a Friedrich Krupp GmbH e, no dia 1º de janeiro de 1968, a Fundação Alfried Krupp von Bohlen und Halbach como proprietária de 100% de suas ações, passou a administrá-la. A partir dessa data até a sua morte, Beitz exerceu a presidência da fundação e de seu Conselho de Supervisão. Aposentou-se em 1989, passando a ocupar a presidência de honra do conselho de supervisão do Grupo Krupp e, desde 1999, a presidência de honra do conselho de supervisão da ThyssenKrupp AG.
Berthold Beitz manteve-se ligado à Krupp durante 60 anos. Presente aos eventos de comemoração dos 200 anos de sua fundação, comemorados no dia 20 de novembro de 2011, Beitz expressou “a sua grande alegria e imensa gratidão”.
Reconhecimento
A trajetória de Berthold Beitz como empresário e a sua atuação humanitária renderam-lhe inúmeros reconhecimentos nacionais e internacionais. Entre elas estão altas distinções outorgadas por Israel e pela Polônia, além de inúmeras outras concedidas pela República Federal da Alemanha e por vários estados alemães.
Em 1996, em Dresden, Berthold Beitz foi homenageado pela Câmara Brasil-Alemanha com o Prêmio Personalidade Brasil-Alemanha, então em sua 2ª edição.
Casado desde 1939 com a Dra. Else Beitz, Berthold Beitz deixa três filhas, além numerosos netos e bisnetos.
