Cerca de 300 participantes, entre empresários, executivos, acadêmicos, profissionais de classe e estudantes, reuniram-se na 9ª edição do Dia da Engenharia Brasil-Alemanha, evento promovido pela Associação de Engenheiros Brasil-Alemanha (VDI-Brasil) em 22 de novembro, em São Paulo (SP), a fim de discutir o papel na engenharia na transformação do Brasil.
“Para absorver novos conceitos e garantir que os potenciais da nova era digital sejam amplamente explorados no País, é necessário refletir sobre como formar os engenheiros do futuro”, destacou o presidente da VDI-Brasil e da ZF América do Sul, Wilson Bricio, na solenidade de abertura, quando convidou os presentes a se engajarem nas iniciativas da VDI e a partirem para a ação efetiva rumo à mudança.
Na palestra de abertura, o presidente e CEO da Siemens no Brasil, André Clark, salientou que a recuperação econômica do País pressupõe a reconexão com as cadeias globais de valor, reindustrialização, reinvenção completa do Estado, busca incessante por produtividade – que é tarefa de engenheiros –, e investimentos em infraestrutura, tendo em vista o crescimento sustentável.
Conforme contextualizou o executivo, o País mudou após a Operação Lava Jato, de modo que ética e compliance serão fundamentais para a economia nos próximos ciclos, além do que o tempo das taxas de juros menores e do rentismo acabou, exigindo que o País agora seja mais empreendedor, alicerçado na economia real. Na trajetória de retomada, ele acredita que a economia de baixo carbono terá grande relevância.
Nesse cenário de transição, para Clark, o engenheiro tem o papel de estar com os pés em interfaces, em dois mundos: local e global, digital e real, teoria e negócio. “Temos que ser fluentes em um mundo de linguagens, promover o desenvolvimento disruptivo, ter senso de empreendedorismo, combinar conhecimentos e demonstrar nossa capacidade de engenhar e resolver problemas. Se nós, enquanto comunidade, não formos porta-vozes junto às nossas matrizes da mensagem de que o Brasil está mudando para melhor, essa noção não virá de fora. Vamos juntos recuperar nosso espaço”, provocou.
Digitalização e Tecnologias Disruptivas
Ao longo da tarde, foram realizados quatro painéis com especialistas, representantes de empresas e de instituições de ensino e pesquisa, os quais fomentaram discussões sobre: Digitalização e Tecnologias Disruptivas; Diversidade e Atratividade na Engenharia; Empreendedorismo na Engenharia; e Cooperação Empresa-Universidade.
No evento, a mais nova edição da Revista Engenharia Brasil-Alemanha foi lançada, trazendo matérias sobre os temas dos painéis. A publicação pode ser acessada pelo link. Além disso, pela primeira vez, o Dia da Engenharia contou com um recurso interativo de votação em tempo real, destinado a avaliar o impacto dos debates sobre a opinião do público.
O painel “Digitalização e Tecnologias Disruptivas” teve moderação do presidente da Associação Brasileira de Internet Industrial (ABII), José Rizzo, e reuniu os debatedores Daniel Moczydlower, diretor de desenvolvimento tecnológico da Embraer; José Frias Borges Júnior, diretor de estratégia e business excellence das divisões Digital Factory; Process Industries and Drives e Building Technologies da Siemens; e João Visetti, diretor-presidente da Trumpf Brasil.
Conforme indicou Rizzo, observar tendências para entender o que o mercado quer – como a personalização, a economia de compartilhamento e a precificação baseada em uso –, investir em ecossistemas colaborativos e buscar agilidade e adaptação são alguns dos principais fatores de sucesso em modelos de negócio inovadores.
Exemplo disso, o diretor de desenvolvimento tecnológico da Embraer relatou, ao falar sobre disrupções no mercado da aviação, que ao invés de venderem aeronaves, os fabricantes começam a vender hora voada, em função da mudança na demanda dos clientes. O desafio, na visão de Moczydlower, é acelerar o processo de desenvolvimento e certificação das tecnologias. Segundo o executivo, atualmente, Embraer e Uber estudam uma solução para mobilidade urbana vertical e horizontal.
Diversidade e Atratividade na Engenharia
O painel “Diversidade e Atratividade na Engenharia” contou com a participação dos debatedores Geovana Donella, Conselheira de Administração e CEO da Donella & Partners; de Simon Girntke, diretor da Dress & Sommer do Brasil; da professora Sheyla Mara Baptista Serra, Diretora do Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia da UFSCar; e de Débora dos Santos Carvalho, engenheira ambiental pela Escola Politécnica da USP (Poli-USP). A moderação ficou a cargo de Theo van der Loo, CEO da Bayer Brasil.
Na ocasião, foram discutidas iniciativas, experiências e caminhos para a valorização das diferenças e aumento da diversidade nas instituições de ensino superior e no mercado de trabalho. Van der Loo, por exemplo, falou sobre o programa de inclusão de LGBTs na Bayer. Débora chamou a atenção para o ainda reduzido número de engenheiras nos cursos da Poli-USP. E a professora Sheyla destacou ações de inclusão na UFSCar, como a reserva de cotas, a criação do curso de LIBRAS, a autorização para uso do nome social no diploma e nos documentos do aluno transexual e a oferta de vagas para indígenas.
Empreendedorismo na Engenharia
Moderado por Carolina da Costa, vice-presidente de graduação do Insper, o painel “Empreendedorismo na Engenharia” reuniu os debatedores Humberto Pereira, presidente da Anpei; Bruno Gellert, CEO e fundador da Peerdustry; Sergio Gargioni, presidente da FAPESC e professor da UFSC; e Afonso Lamounier, vice-presidente para assuntos corporativos e relações governamentais para Brasil e América Latina da SAP.
Durante o debate, Gargioni frisou que os estudantes de engenharia, hoje, querem ser empreendedores, mas que a universidade não os forma para isso, pois os professores continuam os mesmos. Por outro lado, lembrou que há iniciativas bem-sucedidas, como o Sinapse da Inovação, programa da UFSC de incentivo ao empreendedorismo. Bruno Gellert, por exemplo, teve seu primeiro emprego em uma startup que surgiu a partir do Programa e, hoje, tem sua própria empresa, a Peerdustry, que já fatura R$ 14 milhões.
Para o presidente da Anpei, embora nem todo o peso da formação empreendedora deva ser atribuído às universidades, elas têm um papel importante, de ensinar tanto as soft skills quanto o conhecimento fundamental. Contudo, há um desequilíbrio entre as ações de formação e pesquisa na atuação docente. Neste sentido, ele entende que é preciso mudar os currículos e a maneira de formar pessoas, para que sejam mais ativas e saibam aprender ao longo da vida.
Cooperação Empresa-Universidade
O painel “Cooperação Empresa-Universidade” contou com a participação dos debatedores Patrick Silva, Diretor de Infraestrutura para América do Sul da BASF; Jefferson Gomes, professor do ITA, diretor regional do SENAI/SC e consultor da UNESCO sobre Indústria 4.0; André Luís Helleno, professor da Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie; e Johannes Roscheck, presidente e CEO da Audi no Brasil. A moderação foi realizada por Mauricio Muramoto, Sócio-diretor da MHMURA Assessoria Empresarial.
Os debatedores abordaram os desafios na interação universidade-empresa, na transferência de conhecimentos e tecnologias para a sociedade por meio de projetos de P&D e na formação de engenheiros preparados para trabalhar em cooperação e atentos à geração de inovação e valor. Por fim, Helleno frisou a importância de realizar competições, incentivar os alunos a ultrapassarem seus limites, além de promover ações de valorização dos engenheiros formados e dos futuros profissionais.
3º Prêmio VDI-Brasil
A trajetória da Empresa Brasileira de Inovação Industrial (EMBRAPII) para transformar tecnologia e conhecimento científico em benefícios para toda a sociedade brasileira foi apresentada pelo diretor-presidente da entidade, Jorge Almeida Guimarães, na palestra de encerramento do Dia da Engenharia. Ele explicou que a aproximação entre academia e setor privado se dá por meio das 42 Unidades EMBRAPII (UEs) existentes, que têm um plano de ação de seis anos, prevendo o número de projetos que serão realizados, a quantidade de empresas envolvidas e a estimativa do custo total.
Para encerrar as atividades do Dia da Engenharia, foi realizada a solenidade de entrega do 3º Prêmio VDI-Brasil – Destaque da Engenharia Brasil-Alemanha, cujo vencedor foi Hermann Wever, engenheiro civil e eletricista graduado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e ex-presidente da Siemens, responsável por orquestrar a participação da empresa alemã em alguns dos maiores legados da engenharia no Brasil, como a construção das hidrelétricas de grande porte.
Participaram da premiação Pedro Wongtschowski, Presidente do Conselho de Administração da EMBRAPII e vencedor da 1ª edição do Prêmio, e Maurício Lopes, Presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e vencedor da 2ª edição. No início da noite, foi realizado um jantar beneficente com renda revertida para a Sociedade Beneficente Alemã (SBA) Girassol, de Grajaú, São Paulo.
Foto: Divulgação VDI-Brasil