As empresas alemãs no Brasil estão cautelosas com o cenário econômico nacional, mas, mesmo assim, confiantes quanto à realização de investimentos, aponta pesquisa conjuntural realizada pela Câmara Brasil-Alemanha (AHK). O levantamento realizado pela entidade trimestralmente é feito com base em amostra dos 1,7 mil associados, empresas dos setores automotivo, químico, de bens de capital, financeiro, meio ambiente e outros, que respondem por 10% do PIB industrial brasileiro.
Dados referentes ao terceiro trimestre do ano mostram que 10% dos entrevistados acreditam que o momento é desfavorável à realização de aportes, enquanto que, no segundo trimestre, esse percentual era de apenas 5%. Com relação à confiança do investidor alemão no cenário econômico e no mercado consumidor brasileiros os indicadores mostram uma ligeira queda.
O percentual de entrevistados que classificam a atual conjuntura em condições ‘medianas’ para seus negócios aumentou de 14%, no segundo trimestre, para 35%, no terceiro. Outro dado que chama a atenção é a ligeira queda na avaliação do clima geral do mercado consumidor nacional. No segundo trimestre, 77% dos entrevistados consideravam o mercado em situação favorável. Atualmente, o percentual é de 65%.
Essa redução, no entanto, não afeta os planos de crescimentos das empresas, segundo mostra o levantamento. 85% dos entrevistados afirmaram ter projetos concretos de investimento, notadamente em renovação de maquinário, ampliação da capacidade e contratação de mão de obra. Pelo menos metade deles pretende realizar aportes com recursos próprios, ou seja, recursos gerados pelas operações locais. 30% dos entrevistados pretendem utilizar também recursos de suas matrizes.
“Os dados revelam certa inquietação do empresariado alemão no Brasil, provavelmente devido aos sinais de instabilidade econômica no cenário internacional”, explica o presidente da Câmara Brasil-Alemanha, Weber Porto. “Neste contexto, a palavra de ordem é atenção às prioridades. As empresas acabam priorizando os investimentos que vão assegurar seu posicionamento no futuro, e adiando os aportes que puderem ser feitos posteriormente”.
Porto também atribui a cautela alemã à tendência de desvalorização do euro e do dólar frente ao real, existente no período em que a pesquisa foi realizada. Mesmo com as mudanças observadas nos últimos dias, para o executivo, a situação fez com que muitas empresas se sentissem inseguras, adiando planos de investimento para tornar as operações brasileiras o centro de produção para a América Latina e outros mercados.
“Alguns projetos tiveram de ser postergados por essa razão. No momento, as empresas se concentram no mercado brasileiro, pelo menos até quando o Real atingir um ponto de equilíbrio”, pondera.
Desafios – A dificuldade de encontrar mão de obra qualificada foi citada pelos entrevistados como o principal gargalo (25,5% das respostas) a seus negócios na atualidade, seguida da preocupação com a carga tributária sobre a folha de pagamento (15,7%) e das limitações de infraestrutura (10%). Quando questionados sobre as previsões para o avanço da economia, os entrevistados acreditam que o PIB deva progredir apenas 4% no ano de 2011, mesmo percentual do segundo trimestre.
Com relação ao câmbio, 63,6% dos entrevistados consideram que o real necessita de desvalorização em relação ao dólar. Para esses entrevistados, uma redução média de 25% na cotação da moeda frente à moeda americana seria suficiente para recolocar o câmbio em seus níveis ideais. Já os juros, na opinião de 40% dos entrevistados, caminham para a estabilização.
Avaliação do governo Dilma – A pesquisa também colheu opiniões sobre o governo Dilma Rousseff, que, de modo geral é classificado entre mediano e bom, na análise geral das respostas. Em sete meses de governo, a administração Rousseff é considerada pelo empresariado alemão mais “profissional” que a gestão anterior. Mas há citações negativas em relação à corrupção, ao mau controle de gastos e à dificuldade de composição do governo.