Empresários discutem apagão logístico

O temido apagão logístico previsto por especialistas e empresas da área há anos já é uma realidade no Brasil. O crescimento econômico e o aumento dos investimentos esbarraram na falta de preparo do limitado sistema de transporte e logística brasileiro.


Desde agosto desse ano e nos meses seguintes, empresas e prestadores de serviço sentiram os piores efeitos do problema. “O sistema travou por completo. Tivemos em Santos a suspensão de janelas nos terminais principais”, afirma o diretor-superintendente da Hamburg-Süd Brasil, Julian Thomas. O executivo, que também coordena o Comitê de Logística da Câmara Brasil-Alemanha, discutiu o tema com representantes do setor em um seminário promovido pela entidade, nesta terça-feira (7), em São Paulo.


Os gargalos são sentidos em toda a cadeia. O porto de Santos, por onde passa 27% do comércio exterior brasileiro, deve alcançar a marca recorde de 96 milhões de toneladas de carga neste ano, 13 milhões de toneladas a mais do que em 2009, segundo a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), empresa que administra o terminal. Se o desempenho se mantiver em 2011, Santos poderá alcançar 120 milhões de toneladas sem, contudo, aprimorar a infraestrutura. O tempo médio de liberação de um contêiner, que era de 11 dias, hoje já está em 17.


O transporte rodoviário, por sua vez, não comporta o fluxo elevado de cargas. De acordo com Marcelo Rocha, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Comercial de Carga do Litoral Paulista (Sindisan), os terminais trabalham sobrecarregados e sem controle adequado da Alfândega e da Codesp quanto à limitação. “Levamos seis dias para agendar a descarga nos containers”, destaca. Ele reclama de outros entraves que impedem o desenvolvimento do setor, como falta de manutenção e ampliação das rodovias, tributos altos, roubo de cargas e dificuldade para encontrar mão-de-obra qualificada.


A situação nos aeroportos não é diferente e a malha ferroviária brasileira, como se sabe, está obsoleta. Há queixas, também, com relação à lentidão no desenvolvimento de novos projetos. Os problemas são agravados pela falta de conexões intermodais. Para o diretor da Geodis Soluções Globais de Logística no Brasil, Nelson Fernandes, a malha hidroviária brasileira, pouco aproveitada, oferece um grande potencial que merece ser estudado.


As reclamações e as propostas para desengasgar o setor já foram levadas ao ministro Pedro Brito, que comanda a Secretaria Especial de Portos, de acordo com o executivo da Hamburg-Süd. “Estivemos na semana passada com o Ministro e trouxemos algumas propostas. Ele pediu aprofundamento das soluções do ponto de vista dos armadores. O lado positivo é que o governo reconhece que há um problema”, disse Thomas.

SXC
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