Na década de 1960, o Brasil era um país de enormes dimensões, com baixos custos e um amplo programa governamental de industrialização. Isso atraiu muitas multinacionais, que se instalaram trazendo tecnologias modernas de produção. Na época, porém, ainda não havia por aqui fornecedores de componentes ou prestadores de assistência técnica às máquinas de última geração. Foi de olho nesse nicho que a Rexroth chegou ao Brasil, em 1964.
Tudo começou com um escritório de vendas, inaugurado naquele ano no Centro de São Paulo. Pouco depois, em 1967, a estrutura cresceu e foi transferida para um galpão alugado em Diadema, na Região Metropolitana, onde começou a fabricação de válvulas, cilindros e unidades hidráulicas. A abertura da filial brasileira era parte de uma estratégia global da companhia, que já era destaque no ramo de sistemas hidráulicos e começava sua internacionalização.
A filial brasileira, a primeira subsidiária fora da Europa e a pioneira nas Américas, nasceu justamente quando o ramo hidráulico tornava-se a principal atividade da Rexroth. Em 1972, a multinacional inaugurou no Brasil sua fábrica em planta própria, também em Diadema, onde passou a produzir muitos dos componentes vendidos pela companhia no mundo. A unidade de Diadema abriu as portas em um momento estratégico.
Em 1973, os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) aumentaram muito o preço do barril, dando início a uma grave crise econômica global. Como o Brasil precisava de dólares para comprar petróleo, o governo adotou medidas de restrição à importação, o que obrigou os empreendimentos no país a comprar insumos de outras empresas que atuavam por aqui. Assim, a Rexroth se tornou uma das grandes fornecedoras de componentes para o parque fabril brasileiro, conquistando a confiança dos clientes ao oferecer algumas das mais avançadas tecnologias da época.
Foi nesse contexto que, em janeiro de 1974, chegou ao Brasil o homem que consolidou a Rexroth no país. Rudolf Bracht ficou 20 anos à frente da companhia e foi o grande responsável por fazer dela uma peça fundamental na industrialização nacional. “Nessa época a economia brasileira estava em plena expansão. O primeiro desafio foi a fabricação nacional para substituir as importações. E assim investimos maciçamente na nossa capacidade fabril”, conta Bracht.
O desafio foi superado. A empresa forneceu sistemas hidráulicos para quase todos os projetos de expansão da siderurgia previstos no Terceiro Plano Nacional de Desenvolvimento, lançado pelo regime militar em 1979, o que mostra que a Rexroth havia se tornado uma importante referência entre clientes de peso. Isso só foi possível graças a uma equipe comprometida com a busca das melhores soluções para os clientes, como lembra Bracht. Ao se consolidar no Brasil, a Rexroth utilizou o país como base para iniciar sua expansão na América do Sul. Em 1972 a empresa inaugurou uma regional na Argentina e, em 1978, foi fundada uma subsidiária na Venezuela.
Uma nova era no Brasil
No Brasil, a empresa passou por mudanças a partir do início da década de 80, quando o fortalecimento do movimento sindical na Região Metropolitana de São Paulo atingiu em cheio a Rexroth. “Nessa época começou a CUT [Central Única dos Trabalhadores] e tivemos muitas greves. Um mês por ano eles paravam nossa fábrica. Um mês por ano paravam a fábrica dos nossos clientes. Um mês por ano paravam a fábrica dos nossos fornecedores. Trabalhar só nove meses por ano não é viável”, afirma Bracht.
Por conta disso, em 1989 parte das atividades foi transferida para o município de Pomerode, no norte de Santa Catarina. No início, a produção era feita em galpões alugados em Pomerode e na unidade de Diadema. Em 1995 foi inaugurada uma planta própria no município catarinense.
Uma guinada ainda maior veio em 2001, quando a Rexroth foi adquirida pelo Grupo Bosch. Da fusão entre as duas corporações nasceu a Bosch Rexroth. Que neste mesmo ano teve sua sede transferida de Diadema para o município de Atibaia, no interior de São Paulo. Nessa nova etapa, a empresa voltou a participar de um novo ciclo de crescimento da economia brasileira, fornecendo componentes e sistemas para três grandes áreas: aplicações industriais (máquinas e engenharia de equipamentos e automação fabril), aplicações mobil (máquinas agrícolas, de construção civil e de transporte rodoviário) e energias renováveis.
Assim, ampliou o portfólio de tecnologias de ponta fornecidas para setores que impulsionaram a expansão do país nos primeiros anos do século 21 e despontam como cruciais para o desenvolvimento do país nas próximas décadas. Tratores, colheitadeiras e outras máquinas agrícolas equipadas com peças da empresa ajudaram o país a se tornar líder mundial do agronegócio.
Componentes Rexroth melhoraram o desempenho de betoneiras, retroescavadeiras e outras máquinas da construção civil que sustentaram o boom imobiliário dos últimos anos. Turbinas eólicas com motores produzidos pela companhia estão dando vitalidade ao setor de energias renováveis. E seus sistemas hidráulicos para a exploração offshore estão entre as tecnologias que possibilitaram a descoberta e prospecção do petróleo na camada pré-sal.
Em meio à aceleração econômica, a fábrica de Pomerode foi ampliada e reinaugurada em 2006. Ao mesmo tempo, a Rexroth deu início a uma segunda fase de expansão na América do Sul, inaugurando regionais na Colômbia e no Chile em 2011, e no Peru em 2013. Hoje, com dez regionais de vendas nas principais capitais brasileiras, 70 distribuidores em 17 estados e 800 colaboradores, a Bosch Rexroth comemora dois aniversários no Brasil: os 50 anos de sua chegada ao país e os 25 anos da unidade fabril modelo de Pomerode/SC.