Dia da Engenharia Brasil-Alemanha reforça a importância do engenheiro na construção da nova sociedade

Aconteceu no dia 23 de outubro, em São Paulo, o 10º Dia da Engenharia Brasil-Alemanha: Engenhando a Sociedade Digital, promovido pela Associação de Engenheiros Brasil-Alemanha (VDI-Brasil). A abertura contou com as falas de Mauricio Muramoto, Presidente da VD-Brasil, Axel Zeidler, Cônsul Geral da Alemanha em São Paulo, Johannes Klingberg, Diretor Executivo da VDI-Brasil, e Mônica Nardo, Executiva de Contas da Lufthansa no Brasil.

Muramoto abriu o evento reforçando o importante papel do engenheiro para as mudanças tecnológicas e sociais que estão acontecendo no mundo. “O engenheiro, enquanto protagonista desta transformação, não busca as respostas fáceis e sim as soluções inteligentes”.

Sob o mote, “Engenhando a Sociedade Digital”, a associação destacou três grandes desafios atuais por meio dos debates nos painéis, entre eles: a necessidade de ganho de produtividade; as mudanças climáticas e a desigualdade social.

Para colocar o engenheiro como protagonista dessas grandes mudanças, é essencial que o Brasil busque explorar sinergias com outros países, em especial da Alemanha. Zeidler e Klingberg ressaltaram o potencial de cooperação entre os dois países. Para o cônsul, “a VDI, junto de seus associados, é protagonista na cooperação tecnológica entre a Alemanha e o Brasil, que envolve não apenas acordos comerciais, mas parcerias bilaterais em pesquisa e investimento em inovação”.

O diretor da VDI-Brasil ressaltou que essa cooperação se intensificará no próximo ano. “A partir de 2019, essa interação ficará ainda mais palpável. A VDI vai disseminar no Brasil as diretrizes técnicas para a Indústria 4.0, elaboradas pela VDI-Alemanha, adaptadas aos desafios do Brasil. Será um conhecimento inédito, fundindo o know-how de engenharia dos dois países”, disse Klingberg.

Desafio da interoperabilidade de dados é tema do painel de Smart Farming

Durante o primeiro painel, o tema discutido foi Smart Farming, área na qual o Brasil é considerado o principal celeiro do mundo para o futuro, quando levados em conta os seus recursos naturais, hídricos e biológicos.

O painel contou com a participação de Fernando Martins, Conselheiro e Consultor da Jacto Agrícola, e ex-Presidente da Intel Brasil; Luciano Loman, Diretor Executivo da Metos Brasil; e Bernhard Kiep, Diretor Geral da Bermad Brasil.

Os convidados expuseram os avanços e hiatos existentes para a exploração sustentável de todo potencial do agronegócio brasileiro, por meio de novas tecnologias. Segundo Martins, até 2050, o desafio será alimentar 9.5 bilhões de pessoas. “Será necessário deixar o modelo de tomada de decisão intuitivo e especulativo, para se basear em um fluxo de dados, o qual monitorará mudanças climáticas, escassez de água e outros,

contornando a atual situação em que 1/3 do que é produzido no Brasil é perdido”, ressaltou o conselheiro.

Luciano Loman trouxe para discussão o conceito de agricultura vertical que, entre outras coisas, auxiliará na questão do espaço necessário para que seja plantado tudo o que será preciso no futuro. “Teremos menos agrotóxico no produto final, menos gasto de água no período de produção, entre outros”.

Bernhard Kiep finalizou exaltando a importância de diálogo entre as empresas para que os sistemas troquem dados e ressaltou a dificuldade dos EUA e Europa na definição de propriedade de dados. “Aqui no Brasil vivemos algo parecido, necessitando propor protocolos de comunicação entre os sistemas e reflexão de como tornar esses dados disponíveis para todos”, finalizou Kiep.

Os impactos da infraestrutura digital e os seus desafios nas empresas

O segundo painel foi composto por Sergio de Oliveira Jacobsen, Gerente Digital Grid da Siemens; Junior Freitas, Superintendente de Planejamento e Regulamentação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel); Constantino Seixas, Managing Diretor da Accenture; e moderado pelo Vice-Presidente da VDI, André Wullfhorst.

A discussão dos palestrantes foi em torno do desafio que representa a transformação digital para o mercado nacional. Muitas mudanças empacam em problemas de infraestrutura, cultura organizacional, falta de acesso à tecnologia, regulamentação ou outros aspectos que impedem o desenvolvimento do país nesse sentido.

Um dos grandes obstáculos que o Brasil encontra, nesse aspecto, é a regulamentação da Internet das Coisas (IoT). Atualmente as frequências que abrangem os dispositivos IoT são irregulares. A regulação de todo o sistema de comunicação foi construída com o objetivo de ser útil para as pessoas, portanto, não houve uma preocupação com dispositivos eletrônicos que se comunicam entre si. Com isso, nota-se a necessidade de se identificar as questões regulatórias que são um entrave para a tecnologia.

A maneira que a energia é consumida no Brasil também se destaca negativamente como um fator que implica no desenvolvimento sustentável e tecnológico. A falta de infraestrutura na região Norte, por exemplo, evidencia os problemas básicos que o país enfrenta. No entanto, há alternativas que podem ser exploradas, segundo Sergio Jacobsen.

“O Brasil possui energias renováveis que são pouco utilizadas, não podemos ter um único fluxo de energia, precisamos aplicar os chamados 3D’s: descarbonização, descentralização e digitalização”, destacou Jacobsen.

Por outro lado, as adversidades não podem impossibilitar as empresas de passarem por transformações digitais. No mercado B2C o desafio é ainda maior. Os consumidores já utilizam diversas ferramentas tecnológicas para tarefas diárias e as empresas precisam se adequar a essa nova realidade. Constantino Seixas ressaltou o papel da transformação digital nesse sentido. “Apenas 13% das empresas possuem uma

estratégia digital, muitas desaparecem simplesmente por não serem capazes de acompanhar as mudanças. As empresas têm que se alinhar por uma questão de sobrevivência”, finalizou Seixas.

Como empresas inclusivas ampliam significativamente o seu mindset

Por fim, fechando o ciclo de palestras, a Inovação Inclusiva foi o tema abordado. O Brasil é um dos países mais diversos em termos de culturas, ideias, etnias, paisagens e realidades socioeconômicas do mundo. Ao incluir a diversidade de mindset advinda dessas diferenças no sistema de inovação nacional, sua capacidade de encontrar soluções disruptivas cresce significativamente.

Durante o painel, que foi moderado por Joyce Baena, Sócia-fundadora da La Gracia Design, e contou com Mara Redigolo, Co-fundadora e COO da Dandelin; Prof. Fábio Uzunof, idealizador e coordenador da pós-graduação em Gestão Estratégica em Diversidade e Inclusão no Instituto Mauá de Tecnologia; e Sueli Nascimento, Gerente de Produto e líder da rede de mulheres na SAP – Business Women’s Network na SAP, foi enfatizado o poder da diversidade para a inovação.

“Um ambiente inclusivo proporciona que as pessoas pensem de maneira compartilhada, de diferentes óticas, trazendo diversidade para o negócio e permitindo que ele alcance um público muito mais vasto”, explicou Nascimento.

Vencedor do 4º Prêmio VDI-Brasil – Destaque da Engenharia Brasil-Alemanha, enfatiza a importância de colocar boas ideias em prática

No evento, além das ricas discussões, aconteceu o lançamento da nova edição da Revista Engenharia Brasil-Alemanha, uma publicação anual que, neste ano, reuniu reportagens sobre os hiatos e potencialidades na formação de engenheiros no Brasil.

Também aconteceu a entrega do 4º Prêmio VDI-Brasil – Destaque da Engenharia Brasil- Alemanha, em que o engenheiro aeronáutico e cofundador da EMBRAER, Ozires Silva, foi o contemplado.

Ozires trouxe a reflexão de que ótimas ideais foram trazidas e discutidas no evento, porém, levantou o questionamento de que, mais importante do que as boas ideias, é partir para a ação de transformá-las em algo realmente palpável. “Quando demos os primeiros passos para fabricar aviões no Brasil, éramos vistos por um foco absolutamente ridículo. Como se não houvesse possibilidade. Em certo momento precisamos nos perguntar onde queremos chegar, pois, quando todos sabem onde queremos chegar, escolher os caminhos fica muito mais fácil”, enfatizou.

As iniciativas dos estudantes, que foram expostas no evento, surgem como respostas a muitos desses questionamentos em aberto, mostrando que há possibilidades para diversos problemas que precisam ser solucionados, ou seja, respostas e caminhos para as perguntas da atualidade.

“Receber essa homenagem é uma honra e participar de um evento como esse é uma enorme satisfação, pois estimula a educação, o que eu acredito ser o mais importante para que o Brasil alcance todo o potencial de que é capaz” disse Ozires.

Sobre a Associação de Engenheiros Brasil-Alemanha (VDI-Brasil)

Fundada em 1956, em São Paulo, e atualmente presidida pelo engenheiro Mauricio Muramoto, a Associação de Engenheiros Brasil-Alemanha (VDI-Brasil) desenvolve soluções para a cooperação em engenharia, tecnológica e inovação entre os dois países.

A Associação oferece a engenheiros da academia e indústria uma plataforma de cocriação de soluções para desafios comuns dos dois países. Fruto desta discussão técnica conduzida por clusters temáticos, são derivados uma série de projetos de colaboração, publicações, eventos, simpósios e cursos.

A VDI é reconhecida mundialmente e tem sua matriz na Alemanha, com mais de 155 mil associados, sendo a maior associação tecnocientífica da Europa. No Brasil, está instalada, desde 2018, no campus do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em meio à Cidade Universitária.

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