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26 de junho de 2025

Especialistas da Europa e do Brasil discutem atual conjuntura geopolítica com Diretoria da Câmara Brasil-Alemanha

Por Ana Carolina Castro e Mariana Lumy Teixeira

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Foto: divulgação AHK São Paulo

As expectativas de negócios no âmbito das políticas econômicas europeias e brasileiras foram tema central da Reunião de Diretoria da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK São Paulo) nesta quinta-feira (26).

Encabeçada por Pablo Fava, Vice-Presidente da AHK São Paulo e Presidente da Siemens Brasil, a reunião contou com uma programação robusta de debates técnicos.

Traçando uma retrospectiva da agenda agitada da instituição na última semana, Stephanie Viehmann, Diretora de Comunicação e Relações Governamentais da AHK São Paulo, relembrou o sucesso da participação da instituição no Encontro Econômico Brasil-Alemanha, com destaque para os debates liderados pela Câmara em torno do Acordo para Evitar a Dupla Tributação.

Durante o encontro, Martina Hackelberg, Cônsul Geral da Alemanha, contribuiu com uma análise da conjuntura política e econômica da Alemanha no contexto global. “A Alemanha enfrenta grande pressão de expectativas em um contexto de polarização política, uma economia enfraquecida e um cenário de reformas cada vez mais urgentes. Adicionalmente, há um contexto de crescimento econômico fraco diante de ameaças de segurança por parte da Rússia e um expressivo distanciamento dos Estados Unidos”, destacou Hackelberg, analisando os primeiros passos do Governo alemão, sob a liderança do novo Chanceler Friedrich Merz.

Ela frisou que é esperada uma lenta recuperação da economia e que esse crescimento está diretamente relacionado aos impulsos que o novo Governo dará. “A política externa terá um papel central no próximo ano. O Chanceler aposta no fortalecimento da União Europeia, se esforçando para manter os Estados Unidos engajados com a aliança transatlântica com a Europa. Diversificação, resiliência e abertura tecnológica serão pontos centrais dessa estratégia, que envolve novas alianças e celebração de novos acordos e investimentos”, ressaltou.

Em seguida, Sra. Freya Lemcke, Managing Director of the Representation to the European Union da Câmara Alemã de Comércio e Indústria (DIHK, em sua sigla em alemão), apresentou uma análise das iniciativas prioritarias e expectativas que as empresas alemãs apresentam dentro do cenário de mudanças na Europa.

De acordo com ela, competitividade, segurança econômica, defesa e crescimento das companhias são desafios que persistem. “O que queremos é simplificar muitas das leis que já foram escritas”, afirmou. “Com os trabalhos sendo feitos com muita intensidade nos últimos seis meses, dois elementos são muito claros: veremos mais dessas leis e iniciativas sendo implementadas e simplificadas, e veremos que existe um claro foco na formação de novos projetos para auxílios estatais”, disse.

“Queremos combinar os green targets da Europa com a meta de descarbonização”, acresentou, destacando que os sinais são encorajadores sobre as decisões que estão sendo tomadas no presente.

Compartilhando detalhes dos temas que devem ocupar o programa de trabalho da Comissão Europeia pelos próximos seis meses, Lemcke listou temas estratégicos como a aplicação da estratégia de Inteligência Artificial e a estratégia da União de Dados e o pacote para a indústria química. Sustentabilidade também tem um destaque no programa, com pautas centrais como o Pacto de Investimento para o Transporte Sustentável; a Lei europeia de biotecnologia e das Redes Digitais, e a Lei do Acelerador de Descarbonização.

“Conseguiremos ver os resultados ao final deste ano, o que é muito positivo. Essas mudanças tornam mais fácil a implementação dos critérios de sustentabilidade por parte das empresas”, acrescentou Lemcke. “Apesar de continuar um desafio, nossa meta é reduzir o peso, pouco a pouco.”

Traçando um paralelo sob a ótica do lado brasileiro, a reunião contou com uma análise do Professor Dr. Paulo Velasco, Professor Associado de Política Internacional na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e na Fundação Getúlio Vargas (FGV).

“Vivemos uma era de desafios muito importantes, com um mundo marcado por divisões, conflitos e complexas tensões geopolíticas”, reforçou, lembrando que o Presidente Lula enfrenta um quadro internacional muito mais complexo do que o vivenciado durante seus mandatos nos anos 2000. “Se, há 20 anos no primeiro Governo Lula, o Brasil assumia uma postura pujante no contexto global, agora o Governo tem o desafio de manter de forma equilibrada as parcerias estratégicas com o norte e o sul global”, afirmou.

Sob a perspectiva da relação com a União Europeia, Velasco frisou que a robusta presença chinesa na América Latina gera preocupação pelo lado europeu, por conta dos investimentos arrojados que as companhias chinesas têm feito no País. “Há 16 anos a China é o maior parceiro comercial do Brasil, sendo um grande catalisador e financiador de áreas estratégicas, como infraestrutura. Essa parceria reflete, de certa forma, uma frustração do lado brasileiro em relação a Europa, a partir do entendimento de que as companhias europeias poderiam contribuir de forma ainda mais expressiva para alavancar um crescimento mais robusto na região”, disse.

Com um olhar bastante realista, Velasco analisou a política nacional, destacando que as “incertezas macroeconômicas aliadas às turbulências domésticas acabam condicionando e prejudicando a projeção econômica internacional do Brasil”, referindo-se, especialmente, ao fato que ocorreu no último dia 25 de junho, quando o Congresso Nacional derrubou um decreto presidencial que aumentava as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O decreto visava elevar tributos sobre câmbio, crédito e seguros para reforçar a arrecadação.
Essa foi a primeira vez desde o Governo Collor (1992) que um decreto presidencial foi formalmente derrubado pelo Congresso. “Essa incerteza política e sensibilidade na governabilidade é um ponto de atenção na política nacional.”

Passando para uma visão mais abrangente do papel exercido pelo Brasil na América Latina, Velasco abordou o regionalismo defendendo que a composição do Mercosul também enfrenta desafios internos. Para ele, o bloco precisa de uma mudança profunda em sua dinâmica para se fortalecer nas conversas globais. “Precisamos admitir que o Brasil já não tem a mesma envergadura no âmbito da integração latino-americana e o espírito de grupo tem se mostrado muito mais frágil. Contudo, mesmo nesta conjuntura tão complexa, o Acordo com a União Europeia representa uma estupenda oportunidade para ambas as partes.”

Sobre as oportunidades de crescimento do País, Velasco foi enfático de que o País deve fortalecer ainda mais sua agenda ambiental. “O Brasil tem, não apenas lugar de fala, mas protagonismo em qualquer discussão ambiental, sendo talvez o mais importante agente nesse debate global.”

Neste contexto, a transição energética é a pauta na qual ainda dá para fazer muito mais do que já tem sido feito, aproveitando uma janela de oportunidade que se abre para o País. Mercados como minerais críticos e hidrogênio verde são estratégicos para o Brasil, mas seu crescimento depende de investimentos e tecnologia”, ressaltou, completando: “É inegável que a América do Sul é fundamental para a construção do futuro.”

 

Divulgação AHK São Paulo

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