Para o professor Ricardo Karam, bolsista da Fundação Humboldt – Universität Hamburg e um dos palestrantes do evento, a relação entre as duas disciplinas é tão complexa e multifacetada que se torna praticamente impossível falar de maneira genérica sem incorrer em reducionismos. A relação entre Física e Matemática foi um dos temas abordados no 3º Diálogo Brasil-Alemanha de Ciência, Pesquisa e Inovação, que aconteceu nesta semana (30 de setembro e 1 de outubro).
Segundo Karam, para perceber a íntima relação entre Física e Matemática, basta notar que a clara divisão entre as disciplinas é uma construção relativamente recente. “Cientistas como Newton, Euler, Fourier, entre outros, fizeram contribuições importantes nas duas matérias. É preciso explorar mais o incrível potencial didático dessa relação”, diz.
Na visão do pesquisador, uma análise cuidadosa da natureza do conhecimento físico evidencia que esta ciência é intrinsicamente matemática. “É imprescindível investir esforços para conceber um ensino capaz de promover uma compreensão das razões e principalmente das vantagens para a ‘matematização’ da Física. Para isso, os pesquisadores em ensino de Matemática têm de dialogar mais com os de ensino de Física”, acredita.
Para o professor, ações como o 3º Diálogo Brasil-Alemanha de Ciência, Pesquisa e Inovação podem ser uma oportunidade de aproximação. “Este evento contribui não só para que se conheçam importantes iniciativas brasileiras para melhorar ambas as disciplinas no País, como também possibilita conhecer os esforços alemães para a melhoria do ensino e da aprendizagem de Matemática”, diz.
E ressalta: “Esse é um espaço privilegiado de diálogo entre pesquisadores brasileiros e alemães que têm como objetivo comum melhorar a competência Matemática de nossos jovens. A comparação Brasil-Alemanha é especialmente interessante, pois revela problemas semelhantes mesmo diante de realidades tão diferentes”.
A desvalorização inibe o desenvolvimento
Karam acredita que existe muito espaço para incentivar o desenvolvimento dessas disciplinas no Brasil, uma vez que o País possui centros de excelência, como o Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF); realiza investimentos como o programa Ciência sem Fronteiras (CsF), que devem trazer excelente retorno ao País em médio prazo; e estimula iniciativas como as Olimpíadas de Física e Matemática e os programas de formação inicial (como o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, o Pibid) e continuada de professores da educação básica.
“Talvez, um dos maiores empecilhos esteja relacionado à falta de valorização social da carreira científica. Além de serem vistos como nerds exóticos, jovens que optam por desenvolver pesquisa em Física e Matemática raramente encontram perspectivas animadoras para seguir carreiras científicas”, observa Karam.
Segundo o professor, se o Brasil deseja ampliar o desenvolvimento dessas disciplinas é preciso mudar o quadro, o que não é uma tarefa fácil, que exige mudanças estruturais no conjunto de valores de uma sociedade. “Essa mudança passa também pela melhoria das condições de trabalho dos professores da educação básica, bem como pela valorização social de sua importância”, diz.
Ricardo Karam é engenheiro civil licenciado em Matemática, fez o doutorado em Educação na USP. Já foi professor efetivo de Matemática do Instituto Federal de Santa Catarina (IF-SC). Atualmente, é bolsista da Fundação Alexander von Humboldt, encontrando-se em estágio pós-doutoral na Universität Hamburg. Dedica-se intensamente à formação de professores
Centro Alemão de Ciência e Inovação – São Paulo