Equidade de gênero influi no crescimento econômico


Na semana marcada pelo Dia Internacional da Não Violência Contra a Mulher (que foi no domingo, 25), a KPMG International chama atenção para seu relatório “Bridging the gender gap – Tackling women´s inequality” (Preenchendo a lacuna entre gêneros – Combatendo as desigualdades contra as mulheres), que faz uma análise dos problemas enfrentados pelo sexo feminino.

“De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), as mulheres são responsáveis por 66% do trabalho do mundo, produzem 50% de nossos alimentos e constituem quase a metade do grupo de estudantes universitários. No entanto, elas ganham apenas 10% do rendimento global e possuem apenas 1% de todas as propriedades. A equidade de gênero não é apenas um direito humano fundamental, é também reconhecida como elemento vital para o crescimento econômico e o desenvolvimento mais amplo da sociedade, e está incorporada entre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da ONU. Felizmente, muitos governos e agências estão empenhando esforços para reduzir o hiato entre os gêneros, que, em alguns casos, significa superar séculos de percepções arraigadas sobre o papel das mulheres na sociedade”, afirma Timothy A. A. Stiles, líder global de International Development Assistance Services da KPMG.

De acordo com o relatório, diversos estudos comprovam que a valorização da participação da mulher é fundamental para o crescimento sustentável dos países. Como exemplo, tem-se que as restrições à participação feminina na força de trabalho podem reduzir em até dois pontos percentuais o crescimento anual do PIB (Produto Interno Bruto) de uma nação. Há também o fato de a produção agrícola ser afetada em razão de as mulheres produtoras rurais não terem acesso a crédito ou não possuírem suas próprias terras. Ainda, a dependência econômica feminina em relação aos homens restringe sua capacidade de decidir pela prática do sexo seguro, tornando-as mais vulneráveis a gravidez indesejada ou a infecção pelo vírus HIV, o que contribui para o descontrole populacional e para o aumento de custos com saúde, entre outros fatores.

Para reverter tais diferenças, o documento sugere que é necessária a adoção de compromissos políticos firmes, o que acaba sendo, por si, uma questão problemática, especialmente diante do fato de que apenas 20% dos parlamentares de todo o mundo são mulheres.

Brasil

O problema da inequidade entre os gêneros afeta tanto países em desenvolvimento quanto desenvolvidos. Diferentes estudos estimam que os Estados Unidos, Europa e Japão poderiam ampliar o PIB anual em 9%, 13% e 16%, respectivamente, eliminando as lacunas entre os sexos para melhorar o status econômico das mulheres.
Como país em desenvolvimento, o Brasil ainda enfrenta consideráveis disparidades em relação às questões de gênero. Por exemplo, entre 128 nações avaliadas, o país ocupa a 48ª posição no ranking de oportunidades econômicas para mulheres, de acordo com o “Women’s Economic Opportunity Index 2012”, da Economist Intelligence Unit.

O Brasil fica atrás de nações como Uruguai (39ª colocação), México (41ª) e Chile (42ª), e à frente de Argentina (50ª), Peru (56ª), Colômbia (58ª), Rússia (66ª) e China (68ª). A lista é liderada por três países nórdicos: Suécia, em 1°; Noruega, em 2°; e Finlândia, em 3°. Os Estados Unidos surgem na 14ª colocação, enquanto o Japão figura no 25° lugar.

“Apesar de termos avançado significativamente na equidade de tratamento entre os sexos, especialmente depois da Constituição de 1988, ainda enfrentamos sérias diferenças que pesam significativamente contra as mulheres brasileiras. Primeiro, é reconhecido o fato de que os salários dos homens tendem a ser maiores que os das mulheres quanto ocupam cargos similares. Além disso, são limitadas as oportunidades de carreira oferecidas para as profissionais e nós mulheres estamos sub-representadas nas diversas instâncias políticas do País. Há ainda carência de programas específicos para lidar com questões vinculadas às especificidades femininas em campos como os da Saúde e da Justiça, por exemplo”, avalia Iêda Novais, diretora da área de International Development Assistance Services da KPMG no Brasil.

O relatório conclui que, para alcançar a paridade econômica, cultural e social entre os sexos, é necessário que os líderes políticos, agências multilaterais, empresas, veículos de comunicação e a sociedade como um todo se esforcem para que sejam adotadas medidas decisivas e dedicadas à reversão de quadros de desigualdade. As ações políticas devem abranger todas as fases da vida da mulher, incluindo uma melhor oferta de recursos de saúde a partir do estágio de pré-natal, acesso total a uma educação integral, cultura de trabalho inclusivo que proíba práticas discriminatórias e reformas políticas em questões como a propriedade da terra e os direitos de herança.