Hoje, existem cerca de 470 mil pessoas com 100 anos ou mais no mundo, contingente que deverá ser de 4 milhões nas próximas quatro décadas. O número de indivíduos acima dos 60 anos, que atualmente é de 809 milhões, ou 11% da população mundial, passará a 2 bilhões em 2050, ou 22% do total dos habitantes do planeta.
Esses foram alguns dos números apresentados durante o Fórum Internacional de Seguros para Jornalistas 2013, promovido pela Allianz nesta quinta-feira (24), em São Paulo, e que ilustram a mudança demográfica em curso no mundo – o tema do evento deste ano.
O Brasil não foge ao processo. De acordo com dados do IBGE, entre 2001 e 2011, o percentual de habitantes do País com 60 anos ou mais saltou de 9% para 12%, o que, em números absolutos, significou que os idosos passaram de 15,5 milhões para 23,5 milhões. De acordo com projeções da Global AgeWatch, em 2050 os idosos serão 29% da população brasileira. A partir de 2020, a única faixa etária que crescerá será a dos idosos, considerando que o número de filhos por mulher siga pequeno (atualmente é de 1,77, já abaixo da taxa de reposição da população, de 2,1 filhos/mulher).
Mudança demográfica x produtividade
O pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Marcelo Caetano, um dos palestrantes do evento, destacou que os países desenvolvidos já passaram por esse processo de envelhecimento da população, mas o fizeram de maneira muito mais gradual que o Brasil e outras nações emergentes. “A Europa levou quatro ou cinco décadas para que sua população idosa passasse dos 10% dos habitantes para os 20%. O Brasil fará isso em 20 ou 25 anos, ou seja, a velocidade do envelhecimento está sendo muito maior. É incontestável que está havendo uma convergência do padrão demográfico dos países emergentes para o dos países desenvolvidos, mas o nível de renda per capita não está acompanhando esse fenômeno”.
A renda per capita anual na Europa é de cerca de US$ 30 mil, enquanto aqui é de US$ 10 mil. “Se tudo se mantiver como está, num futuro próximo teremos uma pirâmide demográfica parecida com a dos países desenvolvidos, mas com uma renda per capita de um país médio, uma situação complicada. Temos, necessariamente, que aumentar a produtividade no trabalho para aumentar a renda, é a chave para enfrentar esse problema”, afirmou André Portela, professor da FGV-SP, que também palestrou no Fórum.
O aumento da produtividade da mão de obra foi um dos fatores apontados pelo economista-chefe da Allianz, Michael Heise, em sua apresentação como sendo uma das possíveis soluções para se reduzir o impacto demográfico sobre a economia. “É crucial elevar a produtividade dos trabalhadores, e isso passa por educação, capacitação e investimentos em infraestrutura e na indústria”, destacou Heise.
Os outros três fatores importantes para lidar com a mudança demográfica apontados pelo executivo foram a maior participação da mão de obra no mercado de trabalho, o maior tempo de vida profissional e a migração como uma saída para a falta de trabalhadores qualificados.
Consequências para o setor de seguros
De acordo com a Allianz, as mudanças demográficas geram muitos desafios, mas também trazem muitas oportunidades para o setor de seguros. Nesse cenário, duas novas frentes se destacam em termos de potencial de expansão: os mercados de Saúde e de Vida e Previdência.
Um importante indicador desse movimento é o crescimento da modalidade Previdência Privada aberta, que avançou 11,7% de janeiro a julho deste ano, registrando R$ 42,4 bilhões de novos depósitos, segundo a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida. No ano passado, o segmento bateu a marca de R$ 70 bilhões, uma alta de 29,6% sobre os R$ 54 bilhões arrecadados em 2011.
Seguindo a mesma tendência, o mercado de assistência médica privada também cresce em ritmo acelerado. Em uma década, a receita das operadoras de planos de saúde mais do que triplicou, passando de R$ 28,2 bilhões, em 2003, para R$ 93 bilhões no ano passado, de acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Em termos nominais, a alta chega a 230%.