Chega às livrarias a biografia de um dos nomes mais interessantes do meio empresarial brasileiro. “O homem Volkswagen”, de Maria Lúcia Doretto, conta a história profissional e de vida de Wolfgang Sauer, alemão naturalizado brasileiro que foi presidente da Volks brasileira de 1973 a 1993. O empresário também presidiu a Câmara de Comércio Brasil-Alemanha (AHK-SP) entre 1974 e 1977, e recebeu o Prêmio Personalidade Brasil Alemanha no ano 2000.
A obra mostra que, nos anos 1970, quando o convidaram a presidir a montadora alemã no País, Sauer já trazia na bagagem o empreendedorismo, a ousadia e a visão de futuro, que, pelas duas décadas seguintes, o tornariam protagonista de alguns dos mais significativos (e inusitados) eventos da indústria nacional.
Considerado um dos líderes do que se convencionou chamar de 2ª Revolução Industrial Brasileira – ao lado de José Mindlin (Metal Leve) e de Abraham Kasinsky (Cofap), ambos falecidos –, Sauer foi apontado por uma edição especial da revista Exame na virada do milênio como um dos 20 grandes empreendedores brasileiros do século.
O livro revela que o empresário lançou boa parte dos pilares que alicerçam a história de sucesso da Volkswagen no Brasil. Já na década de 1970 ele saiu pelo mundo em busca de novos mercados, o que permitiu à Volkswagen brasileira ingressar nos anos 1990 (e na globalização) com presença em 100 países, inclusive a China. É dele também o mérito pela articulação da maior exportação mundial já feita de um único modelo de carro. O episódio, que rendeu US$ 1,7 bilhão, ficou conhecido como Operação Iraque e exigiu coragem e negociações com governos, além de logística e operações dignas de cinema.
Sempre olhando adiante, investiu na ampliação do mercado criando o Consórcio Nacional Volkswagen e o Banco Volkswagen, brigou com a matriz para implantar uma linha de produção de caminhões (que atualmente detém quase 50% desse segmento do mercado) e criou a Autolatina, unindo as operações da Volks e da Ford em busca de maior eficiência numa época na qual mal se falava em fusões.
Íntimo dos círculos do poder, Sauer era consultado pelos presidentes que governaram o País nessas duas décadas e convivia de perto com os geniais papas da economia de então, como Roberto Campos, Delfim Netto (que o fazia madrugar em Brasília) e Mário Henrique Simonsen (com quem cantava árias de Wagner madrugada adentro).
A convivência com o poder, porém, nunca o impediu de agir coerentemente com seus valores. Tanto que ele teve coragem para processar o Estado contra o controle de preços e fez questão de usar o diálogo para negociar com os trabalhadores na década de 1980, quando o movimento sindicalista no ABC estava no auge e paralisou a fábrica da Volks por 42 dias.