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2 de setembro de 2025

Nelson Motta discute ritmo, criatividade e linguagem no 4º Fórum Brasil-Alemanha de Comunicação

Por Mariana Lumy Teixeira

Evento realizado pela Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo promoveu debates sobre os desafios da comunicação corporativa e estratégias para conectar empresas e públicos de forma autêntica

Foto: Divulgação AHK São Paulo – Marcio Murao

“Tudo na comunicação tem ritmo, e é esse ritmo que conduz o leitor até você.” Com muito ritmo e bossa, Nelson Motta, renomado compositor, produtor musical e escritor, compartilhou essa e outras ideias durante o 4º Fórum Brasil-Alemanha de Comunicação.

Realizado pela Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK São Paulo) no Teatro Cultura Artística, o encontro convidou profissionais de comunicação das empresas associadas à instituição a uma verdadeira mudança no ritmo, ao propor uma experiência única de aprendizado, compartilhamento de experiências e inspiração. Ao longo do dia, os mais de 120 participantes puderam acompanhar painéis de debate técnico em uma programação com 24 palestrantes.

A abertura do evento ficou a cargo de Detlef Dralle, Vice-Presidente da Câmara Brasil Alemanha de São Paulo e Diretor Presidente da HTB, que celebrou a realização do evento em um dos palcos mais icônicos da cidade. “Ver o Teatro aberto ao público novamente e recebendo tantos representantes de empresas é algo que me dá muita alegria. É o começo de uma fase muito próspera, tenho certeza”, disse, reforçando o papel da HTB na reconstrução do teatro, que ficou fechado por 16 anos após um grande incêndio.

Dando as boas-vindas aos participantes, Stephanie Viehmann, Diretora Executiva de Relações Institucionais e Associativas da AHK São Paulo, compartilhou detalhes da escolha do local e das edições anteriores do Fórum. “Locais históricos e icônicos de São Paulo mereciam receber essa troca tão rica que o Fórum Brasil-Alemanha de Comunicação proporciona”, disse Viehmann sobre a tradição na escolha dos locais, que sempre são conectados às temáticas centrais da programação.

Keynote speaker da edição, Nelson Motta contou detalhes de sua trajetória e refletiu sobre os desafios e oportunidades para a área de comunicação corporativa. Em conversa com Ana Carolina Castro, Diretora de Comunicação da AHK São Paulo, de forma orgânica, suas reflexões conduziram todas as conversas que se seguiram, mostrando na prática o ritmo defendido por ele como a “alma da comunicação”.

Considerado um dos primeiros multimídias – antes mesmo do termo ser utilizado – ele revelou sua relação com o sucesso e o fracasso. “Em todas as minhas carreiras, eu aprendi muito com o fracasso, com o erro. Porque o sucesso não te ensina, ele é doce.” De autor premiado a DJ, Motta coleciona atuações em diferentes campos da criatividade, evidenciando que é preciso atualização em meio às constantes inovações tecnológicas.

Junto às novidades, surgem também novos desafios, como as fake news, tema abordado no primeiro painel do Fórum com Iago Bolívar, Diretor de Conteúdo do JOTA, Thiago Massari, Líder de Comunicação Integrada da Bayer Brasil e a Jornalista comentarista de Economia da Band, Juliana Rosa Monteiro.

No painel “O impacto das fake news na comunicação corporativa”, os profissionais desenvolveram uma rica conversa sobre o papel das empresas conjunto à imprensa diante de um cenário de desinformação. “A posição de fragilidade do jornalismo coloca a sociedade nessa mesma fragilidade”, afirmou Bolívar, argumentando que existe uma crise de confiabilidade a partir da fragilidade da mídia.

Para Motta, outro tema de imensa importância é a criatividade e audácia com que a Comunicação brasileira sabe trabalhar. Para ele, saber provocar a emoção por meio da comunicação é uma das ferramentas mais importantes. “É muito mais difícil provocar a emoção, e é o que eu quero fazer todos os dias. Quero que meu trabalho possa alegrar, divertir, informar e emocionar as pessoas, é tudo que eu quero”, disse. Para ele, contudo, conseguir gerar essa emoção é uma tarefa ainda mais difícil nos tempos de excesso de informações. Uma empresa que consegue ser verdadeira e tocar o público por meio da sua própria história desponta como um estandarte de verdade em meio a tantas narrativas “frágeis e abatidas”.

O segundo painel tratou justamente de maneiras de contar histórias e emocionar os públicos por meio da memória institucional. Em uma discussão profunda, Fernanda Brito, Arquiteta de Planejamento da HTB, Flávia Borges, Fundadora e CEO da Tempo&Memória e Sandra Reis, Analista de Acervo Histórico da Bosch, se reuniram com a moderação de Adriana Sandoval. A mesa debateu sobre o ato de manter as memórias e preservar o passado de uma companhia a fim de contar histórias, ressaltando a importância da criação de uma narrativa empresarial.

Para Borges, manter a memória de maneira organizada e planejada de uma companhia é importante pois “ter diretrizes e valores que tem base na cultura de uma empresa te guiam para frente”. Uma boa história empresarial vem com diversos desafios de restauração e preservação, mas tem também a capacidade de emocionar e transformar a opinião de uma empresa.

Complementando a discussão sobre o olhar para o passado, o painel seguinte trouxe uma perspectiva sobre o olhar para o futuro, abordando como as Relações Institucionais e a Comunicação estratégica podem ser trabalhadas de forma cooperativa.

Fizeram parte da discussão Bruno Zani, Human Pharma Comms Corporate Affairs da Boehringer Ingelheim, Leonardo Maurity, Diretor de Relações Governamentais da Boehringer Ingelheim, Barbara Konner, Vice-Presidente Executiva da AHK São Paulo, sob a moderação de Mauritius Dubnitz, Diretor de Relações Institucionais do Colégio Visconde de Porto Seguro.

Outro conceito muito abordado por Nelson foi o “Escândalo”, definido por ele como uma das estratégias mais eficazes para conseguir a atenção do público. “No mundo digital, a atenção é o ativo mais precioso”, frisou. Esse escândalo, no entanto, nem sempre precisa ser uma armadilha. Se usado como uma estratégia de propor uma comunicação disruptiva e que fuja do convencional, esse choque pode ser usado como uma arma para atrair novos públicos e conquistar novas audiências.

Com isso em mente, Carlos Merigo, Fundador e Publisher da B9, Fabiana Pinheiro, Gerente de Comunicação Corporativa para o Brasil da BASF e Rodrigo Pontes, Gerente de Marketing e Comunicação na CPTM, se juntaram pela moderação de Ana Paula Ulir, Head of Employee Engagement, Social Media & Brand da Siemens para um debate sobre como fazer conteúdo de qualidade sem se deixar levar pelo algoritmo.

Os painelistas discutiram sobre os desafios enfrentados ao produzir conteúdo, trazendo exemplos práticos de como as empresas têm lidado com essa nova demanda por conteúdo em redes sociais. Enquanto o público alemão se mostra mais conservador, o brasileiro é forte adepto de linguagens mais leves, como o uso de memes. Para as companhias, encontrar o meio-termo entre difundir as mensagens institucionais e se conectar de forma genuína com as novas gerações já não é mais uma boa-prática, mas um ato de sobrevivência no mercado.

Encerrando a programação, o painel sobre uso de Inteligência Artificial na Comunicação contou com Camila Zoé, Head de Comunicação em Google Cloud na América Latina, Claudio Rawicz, Communication & Sustainability Executive Director da Volkswagen do Brasil e Nathalia Furlan, Gerente de Marketing & Comunicação da Volkswagen do Brasil, com a moderação de Luiz Felipe di Sessa, Sócio de Propriedade Intelectual, Tecnologia e Proteção de Dados Pessoais do escritório Mattos Filho.

Os participantes puderam conhecer de perto mais detalhes dos bastidores da icônica campanha da Volkswagen, que utilizou Inteligência Artificial para colocar a cantora brasileira Elis Regina lado a lado com a filha, Maria Rita. Em seguida, Zoé trouxe uma contextualização sobre o funcionamento da IA, analisando ferramentas e como elas podem auxiliar profissionais de comunicação. No debate, os painelistas puderam explorar dilemas éticos do uso de IA e a necessidade de atualização às tecnologias.

A dose de inspiração do evento ficou por conta de uma apresentação da Orquestra Visconde de Porto Seguro. Com uma composição de 55 músicos, a orquestra se apresentou no salão de concertos do Teatro mesclando peças clássicas de compositores alemães, como “Abertura Coriolano, Op.62” de Ludwig van Beethoven, a clássicos da MPB, como “Bebê” de Hermeto Pascoal, sob adaptação e regência de José Luiz Ribalta.

Tendo atuado como fio condutor de todo o evento, Motta defendeu que “a base para a comunicação é ter muito claro seu objetivo. O que você quer passar e para que tipo de pessoa? A comunicação corporativa, no geral, pode ficar muito presa. Conseguir introduzir na comunicação elementos artísticos, poéticos e literários pode tornar o discurso muito mais interessante”, disse, completando: “O mais importante é saber ouvir. Para então entender o que as pessoas querem e o que pode, de fato, ser oferecido.” Buscando uma comunicação que não apenas informa, mas emociona, o artista explicou a necessidade de se arriscar com as novidades. “A vida, como a comunicação, é escolher e assumir riscos”.

 

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