O fato é que o mundo está transformado pela tecnologia. Nesse período de pandemia, as empresas, e, principalmente, as pessoas tiveram que mudar seus hábitos, comportamentos, atitudes e a forma de viver. O planeta exigiu de todos nós uma grande adaptação.
Para as instituições, há mudanças em todos os processos, em que a tecnologia, se não era usada antes, tornou-se essencial para a sobrevivência do negócio. Para as escolas, ocorreu uma adequação do processo educacional. Para os trabalhadores, a incorporação do sistema de trabalho home office, somado ao aprendizado de novas ferramentas tecnológicas.
E alguém pensou nas artes? A produção artística também está sendo ajustada. Rapidamente, artistas e público tiveram que se instrumentalizar e familiarizar com todos os aparatos tecnológicos. Já havia uma forte tendência ao compartilhamento digital dos produtos artísticos e culturais, e a pandemia veio para acelerar esse movimento.
Mercado Cultural em meio à crise
O mercado cultural foi um dos segmentos mais afetados pela pandemia, já que muitas vezes, precisa de um grande número de pessoas para acontecer. Desde teatros, escolas de artes, centros culturais, casas de eventos, bares, circos, cinemas entre outros. O mundo da cultura e do entretenimento presencial está parado, as portas foram fechadas em março e ainda sem previsão de volta. Além desses espaços, as grandes mostras, festivais, shows, feiras e eventos foram todos adiados ou cancelados. Alguns conseguiram propor ações em formatos de webinar, lives, vídeos nas redes sociais e na internet, porém nem todos conseguiram migrar para esses ambientes.
É preciso também considerar que a arte movimenta a economia e gera empregos. Dados apresentados pelo Mapa Tributário da Economia Criativa, realizado pelo Ministério da Cultura, apontam que o valor movimentado pelo segmento de negócios que se originam de produtos ou serviços ligados à cultura, tecnologia e inovação — a chamada economia criativa — já supera as receitas com serviços de telecomunicações em todo o mundo. No ano de 2019, foram gerados em torno de 30 milhões de empregos e movimentados cerca de US$ 2,5 bilhões, valor que corresponde a 3% de todas as riquezas produzidas no mundo no período.
No Paraná, grandes festivais foram cancelados, como a Mostra Paranaense de Dança realizada pela ABABTG, entre outros eventos e shows. Em Santa Catarina, o Festival de Dança de Joinville adiou as atividades para o segundo semestre de 2020, mas ainda sem data definida. Até mesmo a Broadway parou, o que é um marco histórico.
Cenário das Mostras
Para Jorge Schneider, bailarino e diretor da ABABTG – Associação Brasileira de Apoiadores Beneméritos do Teatro Guaíra, entidade filiada à Câmara, o cenário é delicado para toda a cadeia produtiva artística. Por trás de qualquer espetáculo, concerto, show, festival etc., há uma equipe enorme de profissionais seriamente impactada pela atual situação, para os quais, as alternativas digitais não acolhem. “Estamos com todos os projetos suspensos. Agora, entre maio e junho aconteceria a Mostra Paranaense de Dança, que há 12 anos reúne mais de 2.000 artistas, em geral jovens estudantes da dança de todo o Estado, em uma agenda extensa de atividades que culminam em espetáculos no grande auditório do Teatro Guaíra. Pensamos em uma versão digital, mas não encontramos um modelo que pudesse satisfazer às expectativas destes jovens artistas, dos profissionais colaboradores e do público que sempre participam”, conta.
A bailarina e também coordenadora de projetos da ABABTG, Simone Bönisch, reforça que a arte é troca, encontro e relação. “A tecnologia é uma grande aliada sendo o meio mais eficiente – senão único, que temos para a arte alcançar as pessoas hoje. É certo que quando tudo passar, ela permanecerá fortemente presente e nenhum artista poderá ignorá-la. Mas, acredito ser consenso que nada substitui a experiência presencial. A medida que as pessoas sentirem-se seguras, haverá um movimento de resgate dos meios “convencionais” de se vivenciar os eventos artísticos, sobretudo os cênicos”, comenta.
E encerra com um questionamento: “Tem como a arte, enquanto agente humanizador, em tempos de distanciamento social e tecnologias digitais, transcender a interface da tela?”.