Garantir o abastecimento de água de uma população de 2,5 milhões de habitantes que não para de crescer e vive numa região marcada pelo crescimento urbano desordenado. Além disso, vive numa das regiões de menor disponibilidade hídrica do Brasil, com períodos de seca de até quatro meses por ano.
Este é o desafio de técnicos pesquisadores brasileiros e alemães que integram o Projeto Água DF, que estiveram em São Paulo (SP) nesta quinta-feira (30) para apresentar suas mais recentes iniciativas na conferência Ecogerma 2011.
O Projeto Água DF foi criado em 2009 a partir da celebração de um acordo de cooperação científica entre instituições brasileiras e alemãs. Incluem-se na lista as universidades de Brasília e Dresden, Instituto Humboldt, Centro de Pesquisas do Meio Ambiente da Alemanha e Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal.
Desde então, técnicos e pesquisadores destas organizações têm se debruçado sobre o problema da escassez de água no Distrito Federal, tendo em mente dois objetivos principais: elaborar uma radiografia da oferta hídrica da região e também um planejamento estratégico para garantir o fornecimento no futuro. Estes dois levantamentos devem ficar prontos dentro de dois anos.
“Brasília pode se orgulhar de ser uma das poucas cidades do País que trata 100% de seu esgoto e fornece água tratada a toda população. Isso é muito bom. No entanto, a cidade e seus arredores vêm sofrendo grandes interferências que podem comprometer os mananciais remanescentes e o abastecimento futuro”, afirma Detlef Hans-Gert Walde, pesquisador do projeto.
Dentre as interferências apontadas por Walde estão a frenética urbanização de Brasília e das cidades de seu entorno, que têm, inclusive, levado risco de contaminação ao maior reservatório da região. Há ainda os efeitos das mudanças climáticas que já começam a ser sentidos no Distrito Federal, afetando os regimes de chuva da região.
Ele também cita a intensa atividade agropecuária nos arredores que tem comprometido os mananciais ainda não utilizados, essenciais para garantir o abastecimento de água no futuro. “Considerando todos estes fatores, é possível que tenhamos em um futuro não muito distante períodos de escassez cada vez mais longos na região, com índices de pluviosidade menores, bem como oferta hídrica”, pontua.
Garantia de abastecimento
Diante de um cenário em que se conta com menor oferta hídrica, numa região, os pesquisadores do Projeto Água DF têm pelo menos um consenso até o momento. O abastecimento futuro na região passa por três pilares estratégicos: a economia do recurso, a viabilização de novas fontes hídricas e a ampliação do tratamento de água e esgoto.
Klaus Neder, engenheiro civil da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal, responsável pelo fornecimento de água e tratamento de esgoto da região, afirma que a companhia tem feito uma série de investimentos na tentativa de diminuir a demanda por água. E tem conquistado bons resultados.
“Nos últimos 20 anos, a população de Brasília aumentou em 50%, enquanto que a demanda por água cresceu somente 30”, afirma. “Entendemos que diminuir a demanda é um ponto relevante na sustentabilidade do sistema, mas talvez o reuso da água existente tenha no futuro um papel cada vez mais relevante no abastecimento da população”.
Ele afirma que técnicos da Companhia têm estudado, por exemplo, a viabilização da utilização das águas do lago Paranoá, que margeia a cidade de Brasília e hoje recebe 100% do esgoto tratado da cidade. “É claro que serão necessários novos investimentos para tornar o lago o principal reservatório de água da cidade, mas no futuro Brasília será a primeira cidade a utilizar 100% de água reutilizada em seu sistema de abastecimento”, diz.