Nesta quinta-feira (24) teve início a 8ª edição do Congresso Brasil-Alemanha de Inovação. Realizado pela primeira vez em um formato digital, e tendo como tema central “What drives innovation?” (em português, “O que impulsiona a inovação?”), o evento discutiu as principais tendências em inovação e tecnologia que estão transformando a sociedade e as empresas.
A abertura oficial do evento foi feita por Manfredo Rübens, Presidente da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo e Presidente da BASF América do Sul. Em seu discurso, o executivo falou sobre o engajamento de mais de uma década da Câmara na temática de inovação. “A cultura voltada para inovação é o resultado da soma de diversos fatores, entre eles a sensibilização dos líderes, a existência de colaboradores qualificados e, principalmente, incentivos ao compartilhamento de informações relevantes e parcerias estratégicas”, afirmou.
Líder do Comitê de Inovação da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo e Vice-Presidente Sênior da BASF para América do Sul, Antonio Carlos Lacerda reforçou a importância do evento. “Esse congresso é o principal evento de inovação entre Brasil e Alemanha. Temos muito a aprender um com o outro. A cooperação e a humildade entre ambas as partes fazem com que possamos caminhar mais longe, e juntos, promovendo inovação”, declarou.
A importância da cooperação também foi o tema central da apresentação de Jochen Hellmann, Diretor do DWIH São Paulo e do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD). Ele reforçou ainda que a inovação está diretamente associada à educação. “A cadeia de inovação é formada, basicamente, pelo ensino universitário, pesquisa básica, pesquisa aplicada e desenvolvimento do produto inovativo. E essa cadeia depende diretamente da boa cooperação entre todas as partes envolvidas”, disse.
Batizado de INNOVATION TOOL BOX, o primeiro bloco do evento teve início com um painel sobre as perspectivas do ecossistema de startups. Mediado por Bruno Vath Zarpellon, Diretor de Inovação da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo, o painel discutiu não apenas os desafios enfrentados pelas startups, mas também quais são as ferramentas para o sucesso na interação com grandes empresas. Para Philipp Gneiting, Head of Open Innovation and STARTUP AUTOBAHN da Mercedes-Benz AG, a conexão entre grandes empresas e startups passa pelo desafio do descompasso de expectativas. “Essas expectativas não ficam tão claras no primeiro momento. O ingrediente essencial para o sucesso é que o moderador encontre o balanço entre as expectativas das partes. Se encontrarmos esse ponto, o restante diz respeito apenas a questões tecnológicas”, concluiu.
Wikings Marcelo Machado, Diretor da Next 47 (Siemens), concordou com a opinião de Gneiting, mas reforçou que, ao lado do alinhamento de expectativas, um dos pilares para o sucesso é o comprometimento com o resultado. “Quando me perguntam se trabalhamos com foco estratégico ou financeiro, sempre respondo: ‘Não há nada de estratégico em perder dinheiro’”.
Para Gilfranque Leite, Diretor global de Inovação e Tecnologia da Braskem, outro desafio relevante é a consciência de que para que a cocriação dê resultados, é preciso respeitar a dinâmica de cada parte. “A gente se relaciona com startups por um motivo: pela visão diferente. Tentar fazer com que ela trabalhe como a grande empresa trabalha, sem respeitar seus processos e porte, acaba anulando a essência da startup. É preciso aproveitar essa conexão para aprender, seja pelas novas formas de trabalho, pelo apetite a risco ou pela cultura”, reforçou.
Questionados sobre os efeitos da pandemia do novo coronavírus no ecossistema de startups, os painelistas foram unânimes na opinião de que o novo cenário aponta para um ambiente ainda mais disruptivo, especialmente pelos efeitos do distanciamento social na forma como fazemos negócios. “Até pouco tempo os ambientes de interação presencial definiam os clusters mais maduros. É importante estimular esse fenômeno positivo, mas ter em mente que o contato pessoal não pode ser a única alternativa. A pandemia nos mostrou que dá, sim, para gerar confiança, estabelecer conexões e fazer negócios sem a necessidade de um contato presencial. Caminhamos para algo mais híbrido”, afirmou Bruno Rondani, Fundador e CEO da 100 Open Startups.
O segundo painel do bloco teve como tema central o Intraempreendedorismo e contou com a presença de Antonio Carlos Lacerda como mediador do debate. Durante a discussão, Mauricio Mazza, da Mercedes-Benz Brasil, pontuou que é um erro limitar o conceito de inovação às áreas de tecnologia da empresa. “Os processos de inovação e transformação digital não são sobre TI, mas sim sobre cultura”, declarou. “É preciso começar com a cultura, estar aberto a fazer experiências, e então, depois, focar em resultados. Dessa forma, o programa de intraempreendedorismo não apenas conseguirá engajar mais pessoas, mas também dar à diretoria da empresa mais confiança para investir nesse tipo de iniciativa”, completou Henning Trill, Vice-Presidente de Estratégia de Inovação da Bayer AG.
Estabelecida uma cultura empresarial voltada para inovação, é importante estar preparado para convidar os colaboradores a um novo olhar. “Os programas de intraempreendedorismo ajudam a despertar nosso olhar para as barreiras de defesa ao novo que surgem naturalmente em uma grande empresa”, destacou Cristiane Bulchi, da Mercedes-Benz Brasil.
Ainda que todos concordem que é preciso fazer do programa de intraempreendedorismo uma iniciativa abrangente, Naldo Dantas, Gerente de Inovação em Negócios da Bosch Brasil, ressaltou que o perfil da pessoa que integra este tipo de programa é bem específico. “Deve ser alguém com gosto pela entrega. Que sonha não apenas com o produto final, mas que goste de vendas, da interação com pessoas, que se envolva por completo com todo o processo. O programa, naturalmente, potencializa essas características, mas essa chama já precisa existir na pessoa”, concluiu.
A abertura do segundo bloco, ENVIRONMENT DRIVEN INNOVATION, foi feita pelo keynote speaker do dia, o
Dr. Dr. h. c. Christoph Schmidt, Presidente do Leibniz Institute of Economic Research. “Inovação é a chave para o crescimento. Investimento em maquinário e fortalecimento da força de trabalho, por exemplo, são limitados. A criatividade humana, contudo, é ilimitada. Por isso, entendo que a inovação é a ferramenta mais importante para o sucesso e a sobrevivência de uma empresa no mercado”, disse ele em sua apresentação.
O primeiro painel do bloco reuniu executivos para discutir os desafios da produção sustentável. Para Victor Teles, Gerente Executivo de Customer Solutions da Festo Brasil, uma das principais problemáticas do tema é a falta de uma visão mais ampla sobre a linha de produção. “A tecnologia potencializa as situações, tanto para o bem quanto para o mal. Um bom exemplo são as fake news. Quando falamos da aplicação das tecnologias da indústria 4.0, é preciso ter em mente que essas tecnologias não dão por si o resultado esperado. É preciso ter um entendimento completo da linha de produção para dar o melhor direcionamento e não digitalizar desperdícios”, afirmou.
A opinião foi corroborada por Pablo Fava, Presidente da Siemens. “Sustentabilidade está intrinsecamente ligada à eficiência dos processos produtivos. Ou seja, fazer o mesmo com menos, ou até mesmo fazer mais com menos. Em todos os casos sempre é preciso fazer um pequeno investimento para uma transformação, mas pela experiência da Siemens sempre tivemos o payback”, contou.
Para todos os painelistas, não é possível dissociar a inovação da sustentabilidade. “Transformação digital tem tudo a ver como sustentabilidade, porque traz otimização e maior eficiência nos processos, facilitando a tomada de decisões e ajudando a economizar recursos. Na agricultura, a transformação digital gera cada vez a possibilidade de conectar toda a cadeia produtiva. Além disso, ela democratiza a tecnologia, oferecendo a oportunidade de trazer informações voltadas à sustentabilidade, desde a agricultura familiar até o grande produtor”, explicou Almir Araujo Silva, Head de Agricultura Digital da BASF América Latina.
Moderado por Besaliel Botelho, Presidente da Bosch América Latina, o último painel do dia discutiu economia circular. “Estamos realmente vivendo um momento de ruptura. A sociedade está cobrando o desenvolvimento de uma economia cada vez mais circular. Acredito que nos unindo, podemos mudar a forma de fazer. É um processo difícil e demorado, mas esse exercício de cocriação com certeza trará resultados”, afirmou Guilherme Brammer Jr., Fundador da Boomera.
Abordando a otimização de processos, Rafael Selvaggio Viñas, Gerente de Sustentabilidade Aplicada da BASF América Latina, afirmou que é essencial ter em mente sempre a importância do melhor aproveitamento de recursos. “Usar melhor os recursos significa atender melhor não apenas às necessidades da empresa, mas da sociedade e do consumidor. Não podemos esperar que a legislação estabeleça metas. O caminho ideal é fomentar mecanismos e dar abertura para que o ecossistema se conecte”, disse.
Em sua apresentação, Dr. Magnus Fröhling, da Universidade Técnica Munique – TUM, destacou que o processo de inovação deve envolver diferentes atores. “É importante ter uma visão holística do ciclo de produtividade para podermos cobrir todos os aspectos de sustentabilidade. Esse processo deve começar na educação, passando pelas escolas e universidades, e criando um ambiente em que as startups possam se desenvolver”, disse.
Após o segundo bloco de paineis, os participantes puderam acompanhar o pitch dos vencedores da 5ª edição do Startups Connected, programa de aceleração que fomenta a conexão entre startups e grandes empresas, assim como a cocriação de novas soluções em conjunto com as empresas âncoras a partir de desafios. A edição deste ano recebeu aproximadamente 200 inscrições de startups com as mais diversas soluções para os sete desafios propostos por empresas alemãs associadas à AHK São Paulo. Clique aqui para conhecer as startups vencedoras.
Para encerrar o primeiro dia de evento, os participantes do congresso puderam participar ainda de uma oficina sobre como identificar e priorizar desafios de inovação. Promovida pela consultoria Pieracciani, a oficina disponibilizou um material exclusivo aos participantes para avaliar de forma prática as tendências de mercado e os possíveis impactos e oportunidades para seus negócios. Como bem frisou Valter Pieracciani em sua fala de apresentação, “Só se inova, fazendo”.
Clique aqui para conferir os temas discutidos no segundo dia de evento.