Quando o Governador do Estado da Baviera, Markus Söder, apresentou o programa espacial “Bavaria One“, em 2018, parecia inacreditável fora da indústria que o estado desenvolvesse seus próprios foguetes. Contudo, com a atual guerra entre Ucrânia e Rússia, o mercado aeroespacial tem sido posto à prova e a Baviera se transformou em peça-chave para reposicionar o continente europeu na indústria.
Várias grandes empresas do setor têm a sua sede na Baviera, o que torna as viagens espaciais bávaras (“Made in Bavaria”) negócios muito lucrativos. O Grupo OHB, por exemplo, desenvolve satélites em Oberpfaffenhofen; já a MT Aerospace produz componentes para grandes foguetes, em Augsburg; a Airbus e a Arianespace também despontam no mercado, construindo motores de foguetes e enormes painéis solares para satélites em Ottobrunn. Além disso, o estado conta com diversos especialistas em dados de satélite e uma vasta cadeia de fornecedores.
A indústria aeroespacial bávara já vinha se tornando mais internacional por meio da relação de cooperação com empresas russas que possibilitaram que satélites da Baviera voassem para o espaço com foguetes provenientes do país asiático.
Atualmente, a Rússia está ameaçando se retirar do programa internacional International Space Station (ISS). Os foguetes russos Sojus já foram retirados do porto espacial de Kourou, na Guiana Francesa. A agência espacial russa Roskosmos cancelou todos os lançamentos de foguetes com empresas ocidentais. Michael Schöllhorn, Chefe da Airbus Defence and Space e Presidente da Associação Alemã das Indústrias Aeroespaciais, declarou que essas decisões afetam de forma significativa os voos espaciais europeus.
Buscando encontrar alternativas para esse novo cenário, a Alemanha e a França se uniram na criação do projeto Ariane, que representará uma contribuição muito expressiva para a independência da Europa no que diz respeito ao acesso ao espaço.
O projeto é o único sistema desenvolvido e produzido inteiramente na Europa, por meio de uma forte participação de know-how e produtos fabricados na Baviera. “Discutimos muito sobre a soberania europeia nos dias de hoje. Naturalmente, isto também diz respeito ao acesso ao espaço”, disse Schöllhorn. “As dificuldades da dependência unilateral ficaram evidentes no cenário atual. Essa situação deve ser mudada a partir de agora”, acrescentou.
Outro desafio para a independência europeia no mercado espacial é o titânio. O produto é metal leve, ao mesmo tempo que é forte e resistente. Portanto, é ideal para a tecnologia espacial. Entretanto, cerca da metade do titânio vendido no mundo tem origem russa.
Apesar das fontes alternativas de abastecimento estarem “superlotadas”, Schöllhorn encara a situação de maneira otimista. “Para o próximo ano, devemos de imediato tomar as medidas necessárias para garantir que sejamos então independentes do titânio russo”, explicou.
Os micro-lançadores da Baviera (Microlauncher made in Bavaria) também devem se tornar independentes. Os micro-lançadores são foguetes relativamente pequenos que transportam satélites de comunicação para o espaço. A Baviera é a sede da Rocket Factory Augsburg e Isar Aerospace, duas empresas iniciantes que cresceram rapidamente nos últimos anos. Seus foguetes são desenvolvidos e construídos quase inteiramente na Baviera. Espera-se que eles decolem pela primeira vez este ano ou, no máximo, no próximo ano.