Analisar o que busca o consumidor brasileiro, especialmente o da classe C, e quais tendências de consumo podem guiar o varejista foram os motes da 9ª Conferência Anual da GfK, realizada nesta semana em São Paulo.
No evento, o grupo alemão de pesquisas de mercado destacou a ascensão continuada da classe C: hoje, ela já representa 55% da população, e chegará a 60% em 2014 – somadas as classes A e B, serão 75% dos brasileiros. Outro destaque é a migração do consumo para o interior – a região que mais consome, hoje, no Brasil, é o interior do estado de São Paulo – e para as chamadas regiões emergentes: de cada dez consumidores que integram a classe C, três estão no Norte e no Nordeste.
Simone Aguiar, responsável pelo atendimento a atacadistas e distribuidores da GfK Consumer Choices no Brasil, frisou, em sua palestra, o aumento do acesso ao crédito pelo consumidor nos últimos anos, impulsionado, especialmente, pela queda na taxa Selic, que, após sucessivas reduções, passou de um patamar de 12,5% ao ano em agosto de 2011 para os 7,25% atuais. Os incentivos fiscais do governo a alguns setores, como linha branca, automóveis, móveis e tablets, igualmente ajudaram a impulsionar o mercado.
Produtos básicos
A conferência também apontou que o consumo da classe C faz com que o Brasil ainda seja um bom mercado para produtos básicos ou “de entrada”, ao contrário de muitos países desenvolvidos. A palestra de Gisela Pougy, responsável pelas categorias de eletroportáteis e eletrônicos da GfK, mostrou como os produtos básicos são representativos em determinados segmentos.
A análise das vendas de lavadoras de roupas em 2012 revela que 33% das unidades comercializadas foram tanquinhos, contra 67% de lavadoras automáticas. Os refrigeradores de uma porta representaram 28% das vendas em sua categoria (contra 72% dos de duas portas e outros), os telefones com fio, 43% (contra 57% dos sem fio), e as cafeteiras de filtro, 88% (contra 11% das do tipo expresso). Em relação às cafeteiras, chama atenção o fato de que elas só têm uma penetração de mercado de 20%, o que revela um grande potencial de crescimento.
“O consumidor da classe C está adquirindo alguns produtos, como aparelho de DVD, cafeteira, liquidificador, pela primeira vez, então ele entra nessa categoria de produto comprando a opção mais básica, indo pelo preço. E esse grupo vai ser cada vez maior, a gente pode ver como as regiões emergentes vêm crescendo. Boa parte dos consumidores das regiões emergentes são, também eles, das classes sociais emergentes, e, com isso, o potencial [do mercado comprador de produtos de entrada] é imenso”, afirmou Gisela em entrevista ao BrasilAlemanhaNews.
Tecnologia
Gisela salienta, porém, que a classe C não se pauta única e exclusivamente pelo preço: também quer produtos de qualidade e com tecnologia. “E eu acho que quanto mais acesso a crédito, mais poder de compra ela tiver, mais vai comprar não só o básico, mas escolher um produto que tem uma característica técnica um pouco mais desenvolvida e que vai trazer mais conveniência e facilidade para sua vida”, completa.
E a tecnologia é um fator presente não apenas nos produtos, mas nos canais de vendas, quesito a que os varejistas devem estar atentos, segundo afirmou o presidente da GfK Consumer Choices no Brasil, José Guedes, em entrevista ao portal: “O online, hoje, é crucial, e os empresários podem utilizá-lo não apenas com o portfólio existente, mas também olhar para outros produtos que hoje não fazem parte da cesta de vendas do varejista e que podem, através precisamente do canal online, ajudar a potencializar o negócio. Nós temos visto que alguns varejistas têm tentado diversificar seus portfólios e têm um mix diferenciado da loja física na loja online. Então esse é, claramente, um dos caminhos que podem ser otimizados por parte do comércio”.
Na visão de Guedes, o ambiente virtual tem chances de ser usado mesmo para a venda de produtos de entrada. “Pelo menos para dar a possibilidade de o consumidor da classe C consultar, comparar tanto as características técnicas dos produtos quanto o preço, para depois tomar a decisão de compra, e se comprará na loja online ou na física”, finaliza.