Oliver Stuenkel discute 100 primeiros dias do Governo Lula na Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo

Foto: AHK São Paulo / Heberty Cássio dos Santos Costa.

Os primeiros 100 dias do Governo Lula e as perspectivas para os primeiros anos do mandato foram tema central da Reunião de Diretoria da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo realizada nesta quinta-feira (27) em formato híbrido.

Moderado por Paulo Alvarenga, Presidente da instituição e CEO da thyssenkrupp para a América do Sul, o encontro contou com a participação especial de Oliver Stuenkel, analista político e professor da Fundação Getulio Vargas. Em sua primeira reunião de diretoria como Presidente da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo, Paulo Alvarenga aproveitou a oportunidade para compartilhar as iniciativas e ações que serão desenvolvidas durante o seu mandato. Adicionalmente, anunciou que Gaston Diaz Perez (Bosch) passará a integrar o grupo da Presidência da instituição atualmente composto por Eliane Siviero (LANXESS), Martin Duisberg (DZ BANK), Detlef Dralle (HTB), Christian Roschmann (Tauil & Chequer associado a Mayer Brown).  

Antes da palestra de Stuenkel, Barbara Konner, Vice-Presidente Executiva da instituição, compartilhou com a Diretoria algumas perspectivas sobre os pilares da instituição, suas principais áreas de atuação e as estratégias para os próximos anos.

O encontro contou também com a participação do Cônsul Geral Adjunto da Alemanha em São Paulo, Joseph Weiß, que contribuiu para a discussão com um panorama da situação político e econômica da Alemanha.

Começando sua análise com um rápido panorama sobre as tendências políticas e econômicas da América Latina, Oliver Stuenkel refletiu que o contexto macroeconômico desafiador dificulta uma rápida recuperação econômica e que as taxas de aprovação de governos latino-americanos devem seguir em um patamar mais baixo. “É preciso compreender que cada liderança deve ser considerada com as particularidades de seu respectivo período. Acho muito difícil que o Lula consiga as mesmas taxas de aprovação de quando saiu do poder. Especialmente porque, no debate digital, é cada vez mais difícil para alguém do meio político, sem posicionamentos radicais, se projetar positivamente. Isso eleva o risco de surgimento de outsiders”, afirmou, completando que os algoritmos das redes tendem a priorizar conteúdos polarizados e essa polarização tende a afetar negativamente a inflação e o desenvolvimento.

Destacando o fato de que o Governo Lula tem uma base muito frágil no Congresso, Stuenkel frisou que serão precisos muitos acordos para garantir a governabilidade. “Lula ainda não se adaptou à realidade atual, de que o Presidente não tem a força que tinha nos primeiros mandatos, e isso gera desafios de governabilidade que ele terá que enfrentar.”

Ao abordar as perspectivas políticas no Brasil, o analista político ressaltou a falta de uma oposição expressiva nos primeiros meses de Governo. “A oposição se mostra desorientada, como é de costume do período pós-derrota, e isso reflete em um momento de tranquilidade para o Governo. Mas ao longo do ano, essa lua de mel do Governo, especialmente com o exterior, irá acabar”, afirmou.

Para ele, o período que se segue ao longo de 2023 não deverá registrar avanços em reformas no âmbito da segurança pública, aborto ou pautas LGBTQIA+, temas que mobilizam a esquerda, mas não têm aderência no Congresso, onde a Direita é mais forte.

Stuenkel destacou também os intensos ataques do Presidente ao Banco Central são reflexo da necessidade de um bode expiatório para o cenário difícil e reversão de expectativas. “A repercussão dos ataques de 8 de janeiro ocupou muito espaço político, dando menos espaço para outros assuntos, mas felizmente os temas mais técnicos também estão sendo amplamente debatidos, como o arcabouço fiscal, avançando mesmo em meio a um momento turbulento”, destacou.

O quadro fiscal piorou durante o ano eleitoral e, por conta de uma política monetária mais restritiva em 2023, os juros devem permanecer altos. Seu efeito defasado leva o auge do impacto na atividade econômica para depois de 10 meses. “É preciso paciência”, disse.

No âmbito externo, por sua vez, Stuenkel acredita que houve uma dramática normalização. O analista ressaltou que a vinda de autoridades alemãs ao Brasil desde a posse de Lula é uma mensagem importante que não podemos ignorar. Desde janeiro, o País recebeu visitas de Frank Walter Steinmeier, Presidente da Alemanha; do Chanceler Olaf Scholz, de Dr. Robert Habeck, Vice-Chanceler e Ministro da Economia e Proteção Climática; Cem Özdemir, Ministro da Alimentação e Agricultura; Svenja Schulze, Ministra da Cooperação Econômica e Sustentável; Steffi Lemke, Ministra de Meio Ambiente; e Dr. Frankziska Brantner, Secretária Parlamentar do Ministério de Economia e Proteção Climática.

“A agenda intensa de visitas é sinal de muito boa vontade. Todos querem o Brasil sentado à mesa”, disse, completando: “Estou cautelosamente otimista pelo que está por vir, especialmente por vermos uma relativa estabilidade institucional, como, por exemplo, a atuação conjunta de Lula e o Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, se articulando e respondendo juntos às catástrofes no litoral paulista. Isso não significa que erros não acontecerão. Presidentes cometem erros o tempo todo, não estou eufórico, mas também não estou preocupadíssimo.”