A Câmara Brasil-Alemanha recebeu na última sexta-feira (15) a executiva Rachel Maia. Promovido pelo Grupo de Trabalho Mulheres Executivas, o evento teve como objetivo discutir o empreendedorismo feminino e trazer novas perspectivas sobre a diversidade dentro das empresas.
Rachel é considerada um exemplo de liderança feminina. Isto porque, sendo mulher e negra, fazia parte de um grupo que representa somente 0,04% dos presidentes de empresa no Brasil.
Durante o evento, Rachel – que rejeita o titulo de palestrante – compartilhou detalhes de sua trajetória com uma plateia de aproximadamente 60 pessoas, em sua maioria composta por executivas de grandes empresas associadas da AHK.
Caçula de sete irmãos, Rachel foi criada na região de Cidade Dutra, zona sul de São Paulo. Nos anos 1990, quando ainda dava os primeiros passos na carreira, ela fez sua primeira ousadia ao decidir usar a quantia recebida de uma rescisão trabalhista para fazer um curso de inglês no Canadá. “Eu estudei em escolas públicas, então basicamente tudo o que sabia de inglês era o verbo ‘to be'”, lembra a executiva.
Após a temporada no Canadá, conseguiu um emprego na farmacêutica Novartis. Alguns anos depois foi contratada pela marca de alto luxo Tiffany’s. Ficou na companhia por sete anos, até sair para desenvolver o negócio da Pandora, onde ficou de 2009 até abril deste ano.
Formada em ciências contábeis e com especializações pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e pela Universidade Harvard, Rachel discursou aos participantes sobre a importância de buscar qualificações para ocupar postos de liderança no mercado.
“Gosto de compartilhar minha história e deixar que cada um retenha o que lhe pode ser útil. No entanto, se eu tivesse que resumir meus conselhos em uma palavra seria: resiliência. É preciso ter força diante das dificuldades que a vida nos apresenta. Precisamos entender que somos precursoras. Essa história não nos pertence, será escrita pela próxima geração. Nós, mulheres de hoje, estamos abrindo caminhos para elas”, afirmou.
Com um discurso em defesa da diversidade e da equidade de gêneros e de raças no mundo corporativo, Rachel comemora a existência de altas executivas dispostas a dar o pontapé inicial para que a liderança feminina se torne uma realidade no Brasil. Atualmente apenas 4% do total de CEOs brasileiros são mulheres.
No mundo, mais de 50% das empresas não têm mulheres em cargos de liderança. A realidade no Brasil também é bastante desanimadora. A cada 100 cargos executivos, apenas 15 são ocupados por mulheres. O salário feminino é em média 23% mais baixo do que aquele que é pago aos homens que desempenham a mesma função.
Para Rachel, mais do que um problema de falta de equidade de gêneros, o Brasil ainda enfrenta questões raciais e esses temas precisam ser discutidos para que medidas efetivas sejam tomadas. “É muito triste saber que 1 a cada 5 mulheres negras são empregadas domésticas”, lamentou.
Questionada se liderança é uma característica nata ou algo que pode ser aprendido ao longo da vida, Rachel argumentou que as duas possibilidades são reais. Para ela, ainda que alguns possuam um dom natural para assumir postos de tomada de decisão, a liderança está diretamente relacionada com o poder de escolha individual. “Eu não sabia lá atrás que seria uma líder, mas eu sabia exatamente aonde queria chegar. Eu tinha a convicção de que se eu não pudesse ser a melhor, então ao menos seria uma das melhores no que me propus. Temos de ser as donas das nossas escolhas”, declarou.
Fotos: Divulgação AHK São Paulo