Empresas e causas socioambientais andam de mãos dadas

Foto: Divulgação VerBem

“Muda que quando a gente muda o mundo muda com a gente; A gente muda o mundo na mudança da mente; E quando a mente muda a gente anda pra frente” são as famosas palavras usadas por Gabriel, o Pensador em sua música “Até Quando?” lançada em 2001. E é bom enxergar que elas não estão distantes, atualmente, do que estamos vendo no ambiente empresarial. O engajamento das empresas em questões sociais e ambientais está diretamente relacionado ao impacto social que elas promovem e valida seus discursos de missão e valores corporativos.

Fome, péssimas condições de saúde, educação escassa, aumento das noções de superioridade entre os gêneros, degradação do meio ambiente, mudanças climáticas intensas, são apenas algumas das inúmeras problemáticas no mundo que podem – devem – ser incluídas no propósito das empresas.

Em um acordo mundial, a ONU elencou na Agenda 2030 os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e as 169 metas para a concretização dos direitos humanos básicos. De um lado, muitas empresas já consolidadas no mercado vêm adaptando suas iniciativas para apoiar essas metas, de outro, muitas novas empresas já nascem com as causas socioambientais intrínsecas em seu cerne.

A desigualdade de gênero, por exemplo, é uma das problemáticas que vem ganhando crescente visibilidade. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio em 2013, 44% das vagas de emprego registradas no Brasil são ocupadas por mulheres. Porém os dados relativos às posições de liderança ocupadas por mulheres são pouco promissores, o International Business Report (IBR) – Women in Business 2018 registrou um aumento de 5% em 2015 para 16% em 2017 no Brasil, e mesmo assim representam apenas 2,8% dos cargos mais altos. Felizmente, cresce a cada ano o número de empresas que abraçam a causa da equidade de gêneros no mercado de trabalho e dão voz à causa.

Um exemplo desse engajamento é a Investidora de impacto e Especialista em venture capital Julia Profeta. “Na minha área de atuação menos de 10% dos sócios em fundos de venture capital e private equity são mulheres. Isso impacta nas inovações, produtos e serviços que veremos no futuro, pois é esse grupo que toma essas decisões, sem a presença feminina não temos muita força. No empreendedorismo a mesma situação, mulheres representam cerca de 30% e 40% dos empreendedores, mas recebem menos de 3% de todo o capital de risco investido”, afirma Profeta. Este cenário desigual a impulsionou a fundar o Ella Impact, uma rede global de mulheres focadas no tema de negócios e investimentos de impacto, e consultoria de estratégias de impacto socioambiental com retorno financeiro.

Profeta se apoia principalmente na ODS de número 5: alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas. “Precisamos de mais mulheres trazendo princípios de investimentos e negócios de impacto socioambiental para que, de fato, alcancemos as metas de 2030 estabelecidas pela ONU”, explica Profeta e complementa: “acredito que podemos ser o início desse efeito em cascata que precisamos ver no mundo dos negócios. Negócios e investimentos de impacto são a intencionalidade de gerar, ao mesmo tempo, retornos financeiros e socioambientais, que possam ser mensuráveis”.

Uma importante ferramenta para potencializar o engajamento em causas sociais é a cooperação. Um exemplo disso, é a interação da empresa VerBem com a ONG Renovatio. O processo de colaboração entre as empresas se iniciou pela inspiração no projeto de sucesso do alemão Martin Aufmuth, a EinDollarBrille, que visa oferecer óculos de grau a pessoas em situação de vulnerabilidade social e que diariamente que custam US$ 1 para serem confeccionados. Chocado com os dados apresentados pela associação, o Fundador da VerBem e da Renovatio, Ralf Toenjes, deu partida no projeto no Brasil. Atualmente, a EinDollarBrille é uma das investidoras e suporta financeiramente a operação na América Latina.

A atuação da Renovatio e da VerBem caminham “independentes, mas sempre de mãos dadas”, como explica Victor Fazio, Coordenador de Ação Corporativa da VerBem. As duas atuam na política chamada de “one-for-one”, que prevê que a cada óculos comprado nas lojas da VerBem outro é doado para a Renovatio. O projeto da ONG já esteve em 21 estados brasileiros e 73 municípios, segundo Dias, além de ter ido para o Haiti e Moçambique também.

Atualmente, a ONG mantém as mesmas tecnologias da associação EinDollarBrille, mas sendo fabricados na Bolívia e com um preço de 30 a 40% mais baixo que o custo de mercado. Para atender o público, os óculos são montados na medida do usuário e entreggues no mesmo momento.

Apesar do otimismo em relação ao crescente interesse das empresas por um propósito social mais claro, a Fundadora do Ella Impact reconhece que ainda há muitas problemáticas nessa área de atuação: “Muitas [empresas] têm começado apenas pelo marketing, o que é um grande problema e temos chamado de “Social Washing”. Olham para o que já tem em seu portfólio de produtos e serviços e reclassificam como impacto – grandes instituições financeiras, por exemplo, tem feito isso.”

Contudo, a atuação deste tipo de negócio vem crescendo, gerando lucro e segundo Julia Profeta, “é um tema que não tem mais volta, principalmente em função da geração Z. Tanto consumidores quanto colaboradores demandam das empresas um propósito e engajamento social claro. Assim, muitas startups já estão nascendo com esse DNA e muitas empresas estão tentando entender esse movimento.”

Esse conteúdo foi originalmente publicado na edição de 2019 da revista BrasilAlemanha de Inovação. Para acesso ao conteúdo na íntegra, clique no link para essa e outras edições: https://www.ahkbrasilien.com.br/publicacoes/revista-brasilalemanha