A Diretoria da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK São Paulo) se reuniu nesta sexta-feira (29), para debater o cenário político e econômico da Alemanha e do Brasil, em meio a uma crise global causada pela guerra na Ucrânia. Pela primeira vez realizado em formato híbrido, o encontro contou com um painel de discussão sobre os principais impactos causados pelo conflito.
Em seu discurso de abertura, o Presidente da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo e Presidente da BASF para a América do Sul, Manfredo Rübens, desejou boas-vindas aos participantes e comemorou à retomada das reuniões presenciais no escritório da instituição.
Para discutir a situação econômica da Alemanha, os participantes contaram com o depoimento do Cônsul Geral da Alemanha em São Paulo, Dr. Thomas Schmitt. Em sua fala, ele salientou que, apesar de nenhuma previsão ser completamente exata, as dificuldades que o país está enfrentando não serão tão facilmente superadas. “Mesmo as hipóteses mais otimistas mostram que não teremos um crescimento econômico no nível do projetado antes da guerra eclodir”, explicou. Ainda de acordo com Schmitt, as projeções do PIB alemão para 2022 já estão 5% menores do que o valor esperado no começo do ano.
O painel sobre os desdobramentos da crise teve início em seguida e contou com a participação do Embaixador da República Federal da Alemanha no Brasil, Heiko Thoms; o Chief Country Officer do Deutsche Bank Brasil, Stephan Wilken; e da Mestre em Economia e Finanças pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e Diretora da área de Macroeconomia e Análise Setorial da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro.
O Embaixador ficou responsável por apresentar os impactos políticos do conflito na Alemanha e as consequências para a relação do governo alemão com o Brasil. Por conta da dependência da Alemanha do gás natural russo, o país enfrenta atualmente o desafio de se tornar independente do produto até 2024.
Ainda que seja um momento delicado para o país, Thoms acredita que o cenário é positivo no tangente às relações entre os países parceiros da União Europeia (UE) e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). “Acreditamos que uma resposta coesa por parte da comunidade europeia e dos países parceiros seja fundamental para o cessar da guerra”, explicou.
Essa visão otimista se estende ao Brasil. O País desponta como um dos principais alvos de investimentos por conta de sua alta capacidade de geração de energia e produção de alimentos, podendo assim ser um exportador substituto da Rússia. Contudo, Thoms ressalta a importância de um posicionamento mais claro do governo brasileiro em relação à guerra. “O interesse pelo Brasil está aumentando e pode significar um grande avanço econômico para o País, mas a neutralidade adotada até o momento não corresponde com a mensagem que queremos passar”, afirmou.
Nesse sentido, Wilken comentou a vantagem atual do Brasil em relação aos outros países da América Latina por conta do agronegócio e de sua matriz energética. “Tensões geopolíticas são recorrentes na história e um ponto que aprendemos com eles é que o capital sempre dá um jeito de se adaptar ao cenário existente. Com a necessidade dos países europeus por produtos que anteriormente eram exportados pela Rússia, o potencial para que o Brasil atenda pelo menos parte dessa demanda é grande.”
Esse argumento coincide com os dados expostos por Ribeiro sobre as consequências econômicas da crise para o Brasil. “O País conta com um ‘amortecedor’ por ser um grande exportador das commodities cujos preços mais têm aumentado, como o petróleo, gás natural, trigo e minério de ferro. Essa demanda pode representar um impulso importante para a economia brasileira, ainda que também tenhamos consequências em relação à inflação, à taxa de juros e à questão dos fertilizantes russos usados no agronegócio”, explicou.