Os países europeus com sistemas de estágio profissional fortes e/ou mercados de trabalho com regulamentação flexível (notadamente Dinamarca, Holanda e Reino Unido) são os que têm os menores índices de desemprego e de jovens entre 16 e 24 anos que são NEETs – sigla em inglês para pessoas que não estão empregadas, nem estudando ou em treinamento/estágio (“not in employment, education or training”).
A informação foi divulgada por Juan Dolado, professor da Universidade Carlos III de Madrid e renomado especialista em mercado de trabalho, durante painel sobre o enfrentamento ao desemprego juvenil no Global Economic Symposium (GES), nesta terça-feira (16), no Rio de Janeiro. O evento, organizado pelo Kiel Institute e pela Bertelsmann Stiftung em cooperação com o Centro de Informação Leibniz de Economia (ZBW) e a Fundação Getúlio Vargas, aconteceu pela primeira vez fora da Europa, na terça e na quarta-feira (17), na capital fluminense.
Segundo a palestra do professor Dolado, para os países europeus com mercados de trabalho altamente regulamentados, é muito importante ter sistemas de ensino profissionalizante e de treinamento fortes para compensar essa rigidez – como exemplos, se tem Áustria, Alemanha e Suíça. Em geral, há uma correlação negativa entre a percentagem de estudantes de ensino médio matriculados no ensino profissionalizante e as taxas de evasão escolar nos países que compõe o EU-15 (Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Holanda, Portugal, Espanha, Suécia e Reino Unido). Isso sugere que facilitar o “encaminhamento precoce” de estudantes para o ensino profissionalizante é uma medida bem sucedida na redução do índice de desistência escolar.
O sistema dual de ensino – que combina estágios profissionais em empresas à educação formal – é muito efetivo. A Suíça, o país europeu com o menor índice de desemprego juvenil, tem 60% de estudantes que completaram o ensino obrigatório matriculados no ensino dual, enquanto que na Espanha essa fatia é de 2%. Os países do sul da Europa com uma grande incidência de trabalho temporário – notavelmente Grécia, Itália, Portugal e Espanha – têm as maiores proporções de jovens em risco.
Quanto maior a diferença em termos de proteção trabalhista entre os contratos temporários e permanentes, menos provável é que os trabalhos temporários se tornem degraus de ascensão em vez de empregos sem futuro. Sob o sistema altamente segmentado atual, o excessivo crescimento das indenizações demissionais no término de contratos temporários sugere uma situação em que a maioria dos empregadores prefere fazer uma rotação de seus trabalhadores em uma sequência de contratos com fim definido em vez de assinar um contrato permanente. O painel defendeu que substituir grande parte dos contratos temporários por um só contrato de “final em aberto” – com o nível de proteção trabalhista aumentando gradualmente ao longo do tempo ao invés de abruptamente – iria eliminar o incentivo para essa rotação destrutiva.