Da produção à certificação, Hydrogen Dialogue discute desafios para o ecossistema de hidrogênio verde

 

Foto: Divulgação Hydrogen Dialogue Latin America

O protagonismo do Brasil no mercado global de hidrogênio verde e o desenvolvimento das cadeias de valor do vetor energético foram os temas centrais de discussão da 3ª edição do Hydrogen Dialogue Latam.

Realizado em São Paulo nos dias 10 e 11 de outubro, o evento reuniu autoridades, produtores, investidores, pesquisadores, operadores logísticos, grandes consumidores e demais stakeholders do setor de energia do Brasil e da Alemanha para discutir oportunidades de negócio e a viabilização do hidrogênio verde e de baixo carbono como uma das principais soluções para a transição energética.

Palco de intenso networking, o Hydrogen Dialogue é uma iniciativa da NürnbergMesse Brasil, Hiria, Guia Marítimo e da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK São Paulo).

Em sua fala na abertura do evento, Tobias Gotthardt, Secretário de Estado para Economia, Desenvolvimento Regional e Energia da Baviera, destacou que o Brasil é o principal parceiro de negócios da Baviera na América do Sul e que na área de energias renováveis há muita oportunidade de cooperação. “A necessidade global de discutir este tema é eminente. É tempo de começarmos o futuro”, afirmou.

O Secretário Gotthardt está no Brasil com uma delegação do Estado da Baviera intitulada Transforming Today for a Greener Tomorrow, voltada a discutir as temáticas de bioeconomia, inovação e energias renováveis.

“O potencial do hidrogênio de baixo carbono é algo novo, mas vemos muitas oportunidades de desenvolvimento nessa cadeia de valor. De um lado, temos o Brasil como greenpower house global, e do outro a Alemanha, buscando aliados para atingir seus objetivos energéticos. A cooperação entre os dois países se encontra em um momento único e muito promissor”, afirmou Bruno Vath Zarpellon, Diretor de Inovação e Sustentabilidade da AHK São Paulo.

Dra. Claudia Bärmann Bernard, Representante do Estado da Baviera no Brasil, também participou da abertura do evento, destacando o interesse alemão, com foco para a Baviera, em fortalecer ainda mais os laços tão próximos com o Brasil. Expressão dessa parceria de longa data, a Representação da Baviera no Brasil celebra 25 anos recebendo a delegação de autoridades, empresários e instituições de diferentes setores, entre eles, hidrogênio verde.

Ainda no âmbito da cooperação das regiões, Dra. Bärmann Bernard moderou um painel sobre o fortalecimento da parceria entre os estados da Baviera e São Paulo. Durante o debate, o Secretário Gotthardt reforçou que essa proximidade não se limita ao âmbito econômico. “A Baviera tem ótimas relações comerciais com o Brasil e inúmeras dessas cooperações só ficam cada vez mais profundas, especialmente no ecossistema acadêmico e de pesquisas”, frisou. O Secretário se mostrou animado com as perspectivas e defendeu a celeridade no avanço da pauta de um Acordo de Livre Comércio entre União Europeia e Mercosul. “Eu realmente espero que a União Europeia tenha a iniciativa de, após mais de 20 anos, finalizar o acordo com o Mercosul, para caminharmos rumo a um novo estágio dessa parceria entre Brasil e Alemanha.”

A parte da manhã contou também com um painel de discussão sobre a visão do Governo Federal e do Ministério de Minas e Energia a respeito da indústria e o desenvolvimento do mercado de hidrogênio de baixo carbono no Brasil. Um dos pontos discutidos foi a importância de políticas públicas que fortaleçam o mercado doméstico. “Neste primeiro momento, o uso doméstico do hidrogênio verde é um importante viabilizador dessa cadeia de valor no curto prazo”, reforçou Bruno Vath Zarpellon.

Na parte da tarde, Laura Altobello, Gerente de desenvolvimento de negócios da HTB, moderou um painel em que representantes da Petrobras, Hitachi Energy, Cemig e Instituto Senai compartilharam um panorama dos projetos de hidrogênio de baixo carbono mapeados no Brasil e no mundo. “A importância da descarbonização percorre e ultrapassa todos os setores da economia. Temos, sim, muitos desafios a vencer, mas para isso é importante que empresas de todos os portes se envolvam nesse processo”, afirmou Altobello.

O preço de energia renovável para produção de hidrogênio de baixo carbono foi um tópico discutido ao longo do dia. “A energia renovável no Brasil é, e pode ser ainda mais, competitiva”, destacou Camila Ramos, Vice-Presidente de Hidrogênio Verde da ABSOLAR.

A existência dos desafios, contudo, não foi ignorada na discussão. “A energia solar e eólica do Brasil é uma das mais baratas do mundo, mas quando você adiciona os custos de rede na equação, os custos sobem exponencialmente. Precisamos discutir com urgência formas de contornar esse desafio para potencializar o crescimento deste mercado”, refletiu Mauro Toledo, Diretor da Strategy, Energy, Utilities & Natural Resources da PwC.

Lucas Soares, Coordenador do Portfólio de Eletrificação da Siemens, corroborou, completando que “o maior gargalo para expansão de projetos para produção de hidrogênio de baixo carbono é, com certeza, a conexão”, compartilhando um pouco sobre as inovações no âmbito das tecnologias de gestão de rede.

2º dia

O segundo dia de evento teve início com um painel sobre instrumentos de estruturação e financiamento de projetos de hidrogênio de baixo carbono. Melissa Schleich, Diretora de Mercados de Capitais e ESG da PwC, defendeu a necessidade de um arcabouço regulatório para o desenvolvimento de um mercado de carbono. “Nós já auxiliamos companhias a tomarem instrumentos de dívida que fossem atrelados a papeis verdes, mas o mercado de capitais ainda não tem um âmbito regulatório que permita segurança jurídica para soluções mais criativas.”

A pauta de taxonomia também se mostrou unânime entre os palestrantes. Sem o desenvolvimento de certificações, normas e mecanismos para rastreabilidade, não há como estabelecer um mercado, especialmente no contexto de relações bilaterais. Afonso Lamounier, Vice-Presidente de Relações Governamentais da SAP, defendeu a importância de uma interação entre todos os atores do mercado. “Todo esse ecossistema precisa andar de forma orquestrada em cooperação, tendo em mente que o objetivo final é que toda a cadeia seja rastreável e padronizada. Sem essa cooperação é impossível criar valor na cadeia”, frisou.

No âmbito das tecnologias para produção de hidrogênio de baixo carbono, Luiz Antônio Mello, Diretor de Vendas da thyssenkrupp Uhde Brasil, compartilhou as perspectivas da companhia, destacando que o Brasil já está tecnologicamente pronto para avançar na viabilização dessa revolução. Questionado sobre as tecnologias que despontam como tendências, Carlos Bastos, Business Development Green Hydrogen da Festo, compartilhou que a companhia aposta no uso de Inteligência Artificial como grande aliada para atingirmos alto nível de performance. “O uso de IA no controle dos processos se mostra essencial para garantir qualidade, análise dos procedimentos e predição de falhas do maquinário”, explicou.

A cadeia logística integrada, desafios tecnológicos para uma logística sustentável e infraestrutura na exportação de amônia também foram temas debatidos ao longo do segundo dia de evento. Os participantes puderam conhecer um pouco da estrutura de diferentes portos brasileiros, como Santos (SP), Suape (PE), Porto do Açu (RJ) e Pecém (CE), bem como suas perspectivas para atender aos mercados globais de energia limpa.

Imersão em tecnologias e inovações em hidrogênio na Alemanha

Bruno Vath Zarpellon convidou aqueles que desejam se aprofundar na discussão e troca de experiências com o mercado alemão a participar de uma imersão em tecnologias e inovações em hidrogênio na Alemanha. A missão ocorrerá em dezembro de 2024 e é desenvolvida pela AHK São Paulo em cooperação com NürnbergMesse, Hiria e Guia Marítimo.

Voltada a profissionais ligados aos setores de energia, sustentabilidade, tecnologia e inovação, além de empreendedores, pesquisadores e representantes de empresas brasileiras, a imersão inclui em sua programação 2 dias de evento, com participação no Hydrogen Dialogue em Nürnberg, e 3 dias de visitas, briefings e reuniões com os principais institutos, hubs, empresas, e protagonistas na vanguarda do hidrogênio na Alemanha e no mundo. As inscrições já estão abertas e as vagas são limitas. Clique aqui para mais informações.